quinta-feira, 22 de abril de 2010

Ro de Liz

Não tivesse nascido gente, teria nascido flor
A mais linda delas
Não! Seria necessário somar a beleza de pelo menos duas para ousar semelhança
Seu amor inspira, conspira, transpira, comove. Chega a doer
Sua fidelidade fideliza
Sua entrega constrange
Sua maternidade lembra Deus
Sua “vóternidade” relembra Deus
Sua “mulheridade” satisfaz, à exaustão
Sua cumplicidade é tenaz
Não tivesse nascido mulher, teria nascido um conceito
Obstinada... sabe ponderar
Ingênua... sabe avaliar
Perspicaz... sabe simplificar
Pequena... sabe aconselhar
Grande... sabe compreender
Plena... sabe partilhar
Serena... sabe avançar
Impetuosa... sabe acalmar
Depauperada... sabe presentear
Ferida... sabe perdoar
Atacada... sabe relevar
Vaidosa... sabe ser discreta e vice-versa
Tem senões. Só fazem engrandecê-la

terça-feira, 13 de abril de 2010

O sábio, o mentor e o fanático

Diante da impossibilidade de cura pelos meios naturais, se alguém poderia socorrer o fanático por conta da chaga mortal que lhe acometia, esse seria seu mentor, pois, em tese, seria uma pessoa que teria acesso aos segredos cabalísticos e que poderia indicar o que o doente deveria fazer para “merecer” o favor do poderes superiores.
O mentor, no entanto, vendo-se incapaz de socorrer seu discípulo, sugere-lhe que procure um famoso sábio recém chegado àquelas paragens que teria, além de profunda sabedoria, poderes estranhos. O fanático segue as orientações de seu mentor/guia/pai/cobertura espiritual e sai à procura do sábio, ainda que contrariado, pois dependente de seu mentor, o que faz não sem antes beberem um copo de água juntos.
Quando se depara com o sábio, o fanático se decepciona e retorna ao seu mentor dizendo que ele não tinha aparência de sábio, longe disso, e tampouco nenhum diploma de qualquer espécie, além de ser feio e pobre, embora eloquente e destemido. O mentor reconhece que aquela figura de fato não estava de acordo com o padrão dos que se propõem a orientar as pessoas, mas que ele tinha alguma coisa de diferente e insiste com seu discípulo dizendo que ele não precisaria fazer nada além de pedir a cura para aquela figura meio esquisita. “Vai que dá certo”, dizia o mentor, “não custa tentar”.
O fanático volta, então, munido de dinheiro – vai que precisa barganhar – e de uma toalhinha, sempre providencial nessas horas, levando consigo outros portadores da sua famigerada doença, dos quais um era um tanto díspar dos demais, o que lhe valeu o menosprezo dos outros.
Ao encontrarem o sábio eles fazem o que foram fazer. Aquele homem, capaz de ler corações, percebendo a situação remete-os de volta ao mentor, pois vê neles pessoas religiosas, que queriam a cura mas não queriam abrir mão da segurança da religião que seguiam tão bem representada e dirigida por seu líder espiritual, o mentor.
Ao retornarem, se veem curados e vão correndo contar ao mentor que a orientação dele tinha dado certo e que ele sim era um grande cara, não aquele sábio estranho.
O doente que era dessemelhante dos demais não os acompanha, pelo contrário, volta ao sábio para agradecê-lo e prestar-lhe honra, o que surpreende o sábio que acaba dando-lhe um presente caríssimo que dinheiro algum poderia comprar, presente que os demais que não voltaram ficaram sem.

Qualquer semelhança não é mera coincidência.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Provisão x aprovação

Deus é o Jeová Jiré, isto é, o Deus da provisão, título que gera o famoso e popular “Deus proverá”.
A pergunta que fica é: é a provisão sinal de aprovação de Deus?
E o raciocínio recorrente/decorrente de que “muita provisão, muita aprovação” seria verdadeiro?
O nefasto capitalismo, cujas sementes remontam à época antes de Cristo, tem inúmeros defeitos.
A sua evolução (do capitalismo), passando pelos tempos de Cristo em que até seus discípulos pensavam que os ricos eram, por isso, abençoados por Deus, até a sua configuração moderna surgida com a Revolução Industrial do séc. XVIII, leva as pessoas a pensarem dessa forma, ou seja, quem tem muita provisão é um abençoado por Deus e, portanto, tem sua aprovação.
A considerar a história dos judeus e o discurso/postura de Jesus não é a essa conclusão que se chega.
História dos judeus
Para ficar em um exemplo, o maior deles, da provisão de Deus, veja-se o caso do maná. Foi um caso tão espetacularmente grande que um exemplar desse alimento foi colocado junto às Tábuas da Lei na Arca da Aliança como testemunha da provisão de Deus. Deus proveu, mas... ele aprovou o povo que recebeu o alimento? Procure a resposta.
Discurso/postura de Jesus
São inúmeras as referências aqui que levam a dissociar a provisão da aprovação, no entanto, citarei uma mais conhecida e extremamente chocante por ser tão direta e impossível de ser distorcida ou interpretada/acomodada conforme a preferência de cada um (o que a ortodoxia/teologia adora fazer). Refiro-me ao caso do jovenzinho rico que foi instigado por Jesus a deixar tudo que tinha para seguir seus passos, ou seja, ele deveria abrir mão da provisão de que dispunha para então candidatar-se a ser aprovado por Deus ao seguir os passos de Jesus. Candidatar-se, pois está posto que essa não é uma relação de causa e efeito, como é incorreto pensar que quem não tem provisão seja, por isso, aprovado por Deus.

Quer ver alguém convicto de que está de acordo com os propósitos de Deus? Procure os ricos, isto é, aqueles que têm provisão em abundância, porque eles são levados a associarem a provisão com a aprovação de Deus. O dinheiro tem esse poder. Mas, tem que ser dito: a pior riqueza é imaterial.

Das grandes figuras humanas que mais influenciaram a história para o bem não consta que tenham sido alvo de grandes provisões. Aqui não cabe nem falar de Jesus que aí seria covardia.

Deus, empobrece-me! Por muito ou pouco que tenha ou seja, empobrece-me! Quero me candidatar a ser aprovado por Ti.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Sonho de igreja I

Sonhei uma igreja na qual desiguais sentam-se ao lado um do outro e conversam sobre como ser igual a Jesus
Sonhei uma igreja que divide, e dividindo, une
Sonhei uma igreja que subtrai, e subtraindo, soma
Sonhei uma igreja que emule o mundo com a concreção dos direitos iguais
Sonhei uma igreja que não precisa de manivela
Sonhei uma igreja desapegada para, então, seguir as pegadas de Jesus
Sonhei uma igreja que não copia do mundo o ritmo, mas tem um andar calmo, sereno e tranquilo
Sonhei uma igreja sem brilho e anônima, cujo único destaque é Jesus
Sonhei uma igreja que sofra, ainda que um pouquinho, que creia um pouquinho, que espere um pouquinho, que suporte um pouquinho
Sonhei uma igreja controlada, não por números, mas pelo Espírito Santo
Sonhei uma igreja que vai, ao sabor do vento que ninguém pode direcionar
Sonhei uma igreja que fica, apesar dos pesares
Sonhei uma igreja que descarta modelos. Jesus é mais que um modelo
Sonhei uma igreja que não classifica, que não escolhe, que não diferencia
Sonhei uma igreja sem uniformes, mas com uma forma
Sonhei uma igreja sem comandantes, mas com um comando

Aí... acordei

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Calar

Pai, afasta de mim esse cale-se!

Silenciar, compactuar, relevar
Ignorar, conformar, abonar
Concordar, harmonizar, acomodar
Afiançar, avalizar
Contemporizar, pactuar, admirar
Adulterar, barganhar, lucrar
Depravar, deturpar

Pai, afasta de mim esse cale-se!

Emudecer, condescender, absolver
Aquiescer, aceder, comprometer
Esconder, ceder, corromper
Perverter, distorcer, não ser

Pai, afasta de mim esse cale-se!

Aderir, anuir, consentir
Assentir, transigir, remitir
Fugir, mentir, sorrir
Poluir, cuspir, expelir

Pai, afasta de mim esse cale-se!

Pai, não me dê leitores.
Não me dê ouvintes.
Me dê a coragem de não calar.
Não importa o que eu tenha que pagar.
Eu sei que a solidão dorme ao lado.
Seu Filho mesmo, quando vivo, não tinha o pescoço inclinado.
Pai, se calar eu morro.
Não me deixe morrer, pois estou morrendo.
Morrendo porque me vejo como agente e promotor daquilo que renego.