sexta-feira, 30 de julho de 2010

Cristianismo em xeque - I

1 - Diz-se que a sociedade ocidental é predominantemente cristã. Essa afirmação decorre da maciça influência do catolicismo nessa parcela da sociedade mundial em séculos passados.
Por uma série de fatores, essa afirmação é e não é verdade.
- Se por sociedade cristã se entende uma sociedade com divisão de classes, com pessoas abaixo da linha da pobreza passando e morrendo de fome, com silêncio diante da corrupção, com valorização do que é material, com a ascendência/controle/domínio de alguns sobre outros, com insensibilidade, com a exacerbação do egoísmo, com a supervalorização do livre-arbítrio, com a promoção do enriquecimento pessoal, com baixo nível moral e ético, com o enfraquecimento da justiça, com o domínio da impunidade, com o poder do povo, pelo povo e para o povo, com muitos ganhando pouco para poucos ganhando muito, de fato, a sociedade ocidental poderia ser considerada cristã.
- Por outro lado, se o que se considera sociedade cristã é uma sociedade que segue os ensinamentos de Jesus, aí não se pode afirmar que essa sociedade seja cristã, a despeito dos costumes, tradições, heranças, teologias, princípios, crenças que se fazem presentes nessa sociedade e que se supõem inspirados nesses ensinamentos.

2 - Há que se levar em conta, para um entendimento mais amplo, que algo em torno de 2/3 da sociedade mundial não é considerada cristã. Desses 2/3, 1/3 está circunscrito a tão somente 2 nações: China e Índia, com algo em torno de 2,5 bilhões de habitantes. O outro 1/3 é predominantemente muçulmano com quase 2bilhões de seguidores.
Trocando em miúdos: de cada 3 seres humanos, apenas 1 é cristão, seja lá o que essa palavra signifique.
A realidade nua, crua e dura: em 2.000 anos o cristianismo só avançou 1/3 do caminho (se é que avançou mesmo). Numa conta rápida, faltam ainda 4.000 anos para se completar a jornada, a despeito da sensação que muitos têm de que o fim das coisas esteja próximo.
Os cristãos precisam sair de seu mundinho e entender que muita gente ainda não conhece as coisas dos cristãos.

3 - Muitos há que se orgulham de se denominarem cristãos, a despeito da carga histórica negativa que o termo traz. Não há dolo nisso (quem sou eu para dizer no que há e no que não há dolo), nem aqui vai qualquer tipo de crítica, tão somente um esclarecimento quanto à origem do termo, nunca usado por Cristo.
Os primeiros discípulos de Jesus eram considerados pessoas de uma subclasse, eram tratados “como lixo do mundo, como escória de todos”. Hoje isso é inaceitável no meio dito cristão. Procure e você não encontrará quem queira ser tratado assim (Não tente levar vantagem sobre um cristão. Você se dará mal). Mas é preciso saber que o termo “cristão” tinha originalmente um sentido depreciativo, ou quando muito, era uma associação que os não-judeus faziam com o Cristo, que para eles era um nome próprio (algo como Pereira, Silva, Souza), não o Messias. Seria como nos referirmos aos getulistas por causa de Getulio Vargas, aos peronistas por causa de Perón, aos lulistas por causa do Lulla. Quando o rei Agripa disse a Paulo que “por pouco ele se tornaria um cristão”, era a isso que ele se referia, ao que Paulo respondeu que “quem dera o rei se tornasse como ele”, isto é, não como um cristão, mas como um seguidor dos ensinamentos de Jesus.

Deus está agindo no mundo apesar do cristianismo. Deus não se submete à agenda dos cristãos, ao controle dos cristãos, ao descompromisso dos cristãos.
Se, como dizem alguns, o fim está iminente, então penso que algo de absolutamente extraordinário irá acontecer, senão teremos que esperar por mais alguns milhares de anos para contemplarmos esse fim.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Jesus. Um líder?

Enxergar Jesus como um líder é reduzir sua ascendência, sua transcendência
Sua magnificência, seu resplendor
Um líder, dentre iguais, é alguém que tão somente se sobressai sobre os demais
Nesse sentido, Jesus não é um igual, não é mais um entre nós
Não é isso que o “tornando-se em semelhança de homens” quer dizer
Enxergar Jesus como um líder de um grupo de pessoas limita-lhe a ação
Restringe-lhe a abrangência, diminui-lhe a atuação
Jesus é mais, muito mais, que essa designação pode indicar
Líderes os há no governo, no esporte, em associações, na religião
Líderes os há no crime, nos negócios, no trabalho, na competição
Enxergar Jesus como um líder é ver nele o almoxarife da despensa divina
O gerente do RH celestial, o general do exército angelical
Jesus é mais, muito mais, que essa designação pode indicar
Enxergar Jesus como um líder é classificá-lo como uma pessoa virtuosa
Uma pessoa carismática, um pouco, ou muito, acima da média
Mas que pode, ainda que honrosamente, ser descartada
A liderança assim entendida pressupõe substituição
Pressupõe a ascensão de outros para ocupar a função
Quantos líderes não há no cemitério?
Jesus é mais, muito mais, que essa designação pode indicar
Enxergar Jesus como um líder é equipará-lo aos grandes nomes da humanidade
No caso dos religiosos, é colocá-lo no panteão dos deuses
No caso dos poderosos, é ver nele um concorrente
No caso dos supersticiosos, é ver nele um mito
No caso dos necessitados, é ver nele uma possibilidade
No caso dos poetas e pensadores, é citar suas falas
Ainda que de forma multifacetada e descontextualizada
Jesus é mais, muito mais, que essa designação pode indicar
Talvez você nunca tenha ouvido dizer o que vou dizer
Espero que você esteja sentado porque é muito forte o que vou dizer
Se você assimilar o que vou dizer, o mínimo que seja, você será outra pessoa
“Daqui pra frente, tudo será diferente”
Preste atenção: JESUS É O FILHO DE DEUS!
Pronto! Vai ser feliz, vai viver a vida
Nele a gente pode confiar, ele nunca se contradiz

terça-feira, 6 de julho de 2010

O Cordeiro/Leão II

Quase diria que de cordeiro, no sentido comumente compreendido, Jesus não tinha nada.
Quando Ele diz que era manso e humilde (Mt 11), é preciso entender que Ele dizia isso na condição de quem usava uma canga (jugo). Oras! Quem usa canga? Cordeiro não usa canga, boi é que usa canga. Você já se deparou com um boi? Não tente. A menos que ele tenha uma argola de ferro em sua narina, único instrumento capaz de controlá-lo. A propósito, um boi com uma canga está de fato numa condição de mansidão e humildade, muito pelo instrumento (jugo), menos por sua personalidade.
Com os religiosos Jesus teve embates homéricos, jamais se reservou, se preservou ou ficou na retaguarda. Jamais. Jamais recolheu-se ou abaixou a cabeça.
A mudez na hora do holocausto (At 8) foi sinal de força, não de fraqueza. É o silêncio grandiloquente, o silêncio que fala. Pense nos kamikazes (os aviadores suicidas japoneses da Segunda Guerra). É uma vaga reminiscência do que fez o Cordeiro.
A Causa vale mais que as palavras.
A considerar o reduzido registro de suas palavras, podemos dizer que Jesus teve um verdadeiro bate boca com Pilatos (Jo 19), ele não ficou calado não, tão somente não respondeu uma de suas perguntas, de tão descabida. O mesmo se deu quando debateu com o sumo sacerdote (Mt 26).
O paralelismo com o cordeiro vale porque o animal morria no lugar das pessoas, que foi o que Jesus fez.
Quem gostava muito dessa figura era o evangelista João. Em seu último escrito (Apocalipse) ele o apresenta como um cordeiro, mas “oh cordeiro que é forte!”: Cheio de cifres e olhos, digno de receber poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor, assentado em trono, administrador dos eventos futuros (selos), dono do Livro da Vida, vencedor, Senhor e Rei, santuário e lâmpada da cidade santa. Definitivamente: não há nada de fraco aqui. Nada de humilde, até porque humildade não é pensar menos de si, senão, menos em si, que foi exatamente o que Jesus fez quando não se prevaleceu de sua condição divina e veio a nós.
“Oh cordeiro que é forte!”.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Daquela hora

E então?
Quando vier sua hora? Não a hora de partir, que a rigor é um prêmio, mas a hora de enfrentar a oposição.
A quem recorrer? Com quem contar?
Aquela hora em que nos vemos sozinhos com um peso invisível enorme sobre os ombros.
Aquela hora em que não conseguimos fechar os olhos e ficamos rolando na cama.
Aquela hora em que tudo parece conspirar contra.
Aquela hora em que a difamação sobre sua pessoa parece que vai “pegar”.
Aquela hora que parece que ninguém acredita em você.
Aquela hora da perseguição aberta, ou, pior, da perseguição encoberta, em que não se sabe quais os passos que o inimigo dará.
Aquela hora da exposição indesejada.
Ela virá. Se tão somente você decidiu seguir Jesus, ela virá. Não há como escapar, a menos que você se conforme ao mundo.
Para uns é mais amena, mas não menos decisiva.
Para outros é absurda, revoltante, mas totalmente conclusiva.
Para uns é física, material.
Para outros é intangível, espiritual.
Para uns é aço em brasa na bigorna.
Para outros é osso quebrado em ferida exposta.
Para uns é fel na alma.
Para outros é fé abalada.
Ela virá. Se tão somente você decidiu seguir Jesus, ela virá.
Bom pra você que ela venha, pelo menos, em seu primeiro discurso Jesus deixou isso claro.
Bom pra você que ela venha, você se parecerá mais com ele.
Bom pra você que ela venha, você deixará de confiar em si mesmo.
Bom pra você que ela venha, você saberá que não está sozinho.
Bom pra você que ela venha, será a hora de caminhar o caminho.
Bom pra você que ela venha.
Aqui entra a igreja. Não aquela do CNPJ, não aquela do endereço, não aquela da agenda.
A outra. Acho que você a conhece.