quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Neizinha

Uma mulher, cinco homens, depois quatro, depois três.
Uma mulher, mas mais forte que todos juntos.
Fidelíssima, amante visceral dos filhos.
Acho que foi ela quem cunhou a frase: “quem beija meus filhos, minha boca adoça”.
Corajosa, do alto dos seus 1.65 m criou três brutamontes, sendo-lhes pai e mãe, dando-lhes até mesmo as primeiras aulas de volante.
E não é que deu certo!
Tirante as limitações de cada um, são pais de família bem estabelecidos, sem doenças, sem vícios.
A semente que ela plantou, vingou, até porque ela mesma é fruto de uma videira acima de qualquer questão que atendia por Conceição, docílima e belíssima lembrança, puro coração.
Três belas noras, oito netos, um bisneto.
Aos filhos, tudo. Desde a casa, ainda na adolescência deles transformada em quartel general frequentada pelos seus vários “sobrinhos”.
Era a rainha do jeitinho.
Pra si, quase nada.
Poderosa, sempre em busca de seus objetivos, não tinha limites, tirante a desonestidade e o prejuízo do outro. O maior desses objetivos: superar a dor da perda do terceiro filho. Dor que dói até hoje. Acho que por ela, ela teria desistido, mas restavam ainda os outros três.
Sofredora. Apunhalava-me a alma a sua remota e constante luta contra a insônia. Pudesse eu, lhe daria o meu sono.
Marcante, acho que ela conseguiu fazer o dia durar mais de 24 horas, pelo menos era a sensação que tínhamos quando das suas visitas à irmã freira na cidade grande.
Neizinha, única, insubstituível, incansável, inigualável, matriarcal e majestosa.
Meu maior prazer é poder repercutir onde e com quem quer que esteja o que dela recebi desde minha infância e juventude quando éramos cúmplices e eu podia entregar em suas mãos o meu salário durante todo esse período para ajudá-la a cumprir sua missão. Não importa se era muito ou pouco, Deus sempre entrava com algum tipo de milagre de provisão. Ela sabe, eu continuo com nossa combinação.
Mulher de fé, ensinou-me as primeiras páginas da bíblia, de quebra, deu-me o primeiro violão, um azulão, desses de tocar música do sertão. Que importa? Aprendi e ensinei, recebi e dei, ouvi e toquei.
Mulher dos bolos, dos panetones, das balas, dos doces, muitos dos quais ajudei a embalar. Camafeus, fios de ovos, bombons de uva e leite condensado, às vezes misturado.
Mulher prendada, costureira, encanadora, passadeira, encantadora.
Estamos ficando mais pobres.
Neizinha. Parem as máquinas, cale o mundo. Ela vai passar.