segunda-feira, 27 de abril de 2015

Da multiplicação

Eu participo de uma comunidade que nesse ano está priorizando a multiplicação, por isso, quem é da comunidade entenderá a reflexão, sem necessariamente concordar com ela, quem não é pode, da mesma forma, refletir um pouco.

Muito se fala da multiplicação, não é uma exclusividade da comunidade em que participo. O anseio é por multiplicação, cujo símbolo maior seria a multiplicação dos pães que teria sido efetuada por Jesus. Multiplicação dos frequentadores, dos recursos, dos ministérios, com o consequente aumento e aprimoramento das instalações físicas para atender a demanda. Justo e honesto.
Fato é que no milagre em questão narrado nos evangelhos, o termo ‘multiplicação’ não aparece nos escritos originais. Na maioria esmagadora das bíblias aparece lá o título do milagre: ‘A multiplicação dos pães’ em negrito. Esse título não consta dos manuscritos, sendo um acréscimo das editoras para facilitar sua localização.
O que está escrito nos originais é que Jesus partiu e repartiu o pão depois de consagrá-lo.
Oras! Partir é o mesmo que dividir.
Se assim é, então ele não multiplicou, ele dividiu!!!
Parece que Deus prefere a divisão à multiplicação.
Veja o caso da mitose.
A mitose é um processo de divisão celular, já que, a partir de uma célula formada, originam-se duas células com a mesma composição genética mantendo assim inalterada a composição e teor de DNA característico da espécie. Este processo de divisão celular é comum a todos os seres vivos, dos animais e plantas multicelulares até os organismos unicelulares.
Nós temos bilhões de células em nosso organismo que chegaram a esse número não pela multiplicação mas pela divisão.
Na ceia, o Corpo do Senhor é repartido, e assim todos participam desse corpo.
Na comunidade primitiva elas partiam o pão e repartiam o que possuíam de acordo com a necessidade de cada um.
Meu ponto: parta-se. Reparta-se. Comunique o você tem. Não retenha. Não caia nessa falácia do amor ao dinheiro, transvestido de prosperidade, tão em moda nas igrejas.
A multiplicação pela multiplicação é terrena, cujo anseio é por mais poder, por mais exposição, por mais ascendência. Uma excrescência. Uma exorbitância da insignificância.   

A multiplicação advinda da divisão é divina.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Da saudade

Quem a pode definir?
Quem pode livrar-se dela?
Temos saudade do que já fomos, do que já tivemos, do que já sentimos.
Temos saudade de pessoas, de lugares, de situações.
Muitos há que temem a saudade, entre os quais me incluo.
Há tipos de saudade:
A quem em breve será cessada, a quem nunca acabará, a que traz prazer, a que traz dor, muita dor.
A mãe de todas as saudades: a provocada pela morte daqueles a quem se ama, por irreversível.
Mesmo os mais insensíveis e frios e que tentam dissimular, no fundo, são tocados pela saudade.
Pela saudade alguns há que caminham, outros que sucumbem.
O famoso escritor russo disse que “há no homem um vazio do tamanho de Deus”.
Eu diria que a humanidade tem saudade de Deus, para os que creem que vieram Dele.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Uma prece

Grande Deus, Absoluto Rei dos Exércitos Celestiais

Anelamos por sua misericórdia, enquanto esperamos sua justiça.

Por mim, que não correspondo nem minimamente a tamanha graça que recebi do Senhor.
Pelos meus, todos e cada um deles. Se puder e eu tiver qualquer crédito, debite de minha conta o que faltar da deles.
Pela igreja católica, que tão cedo desviou-se de Seu comando, e implantou um reino terrenal, com suas cruzadas, e com sua recorrente omissão medrosa nos grandes eventos históricos como quando silenciou-se na guerras mundiais. Ainda pelos graves casos de pedofilia.
Pela igreja evangélica que tão logo o fundador do movimento tenha morrido enveredou por caminhos nefastos e materiais em que se ama o dinheiro. Um movimento raso, em que se celebra o adultério em todas as suas formas, desde o mental ao matrimonial. Ainda pela grave usurpação da autoridade pelos seus líderes, em que se apresentam como mediadores entre o divino e o humano.
Pelo cristianismo que hoje é apenas um arremedo do que deveria ser.
Pelos políticos brasileiros que corrompem e que se deixam corromper.
Pelos empresários brasileiros que se deixam corromper e que corrompem.
Pelos funcionários públicos, tais e quais.
Pelo cidadão comum, pelo operário, pela dona de casa, pelo estudante, pelo doente, pelo cético, pelo religioso, pela prostituta, pelo drogado, pelo velho, pela mulher violentada, às vezes até sem agressão física, enfim...
Senhor, onde está o remanescente que eu sei que o Senhor mantém aqui nessa terra?
Tão somente me diga e correrei os mundos atrás deles.

sábado, 4 de abril de 2015

Teologia de calçada (3)

A história humana em 12 versos
Uma releitura de Lc 10.25-37

O doutor da lei – aqueles que acham que sabem tudo, que têm resposta para tudo.
Jerusalém – o lugar original do homem
Jericó – a vida terrena do homem
O homem espancado e meio morto – a humanidade
Os salteadores – os capirotos
O sacerdote – os religiosos, todos eles, os que estão no topo (da hierarquia piramidal).
O levita – aqueles que não se misturam, a nata, os eleitos, os “salvos”, os “grandes servos”, “os caras”, os astros, os que adoram títulos e privilégios.
O samaritano – uma raça menor, sem honra para os judeus que se referiam a Jesus como um samaritano para ofendê-lo (Jo 8).
A viagem – aquele viajante sabia de onde vinha e para onde ia, não estava perdido e sabia que a vida é uma jornada que não tem um fim em si mesma, senão que aponta para o eterno e que as coisas dessa terra são pó.
O animal – os instrumentos que são usados pelo viajante e que lhe trarão em seu regresso glorioso (Ap 19).
As feridas – a traição, a falta de reconhecimento, a discriminação, o abandono, o abandono do ferido no meio da guerra pelos seus pares, o menosprezo, a divisão entre quem deveria ser igual, a usurpação, os roubos, as mortes, a pobreza, a ignorância, a violência, o domínio de uns sobre outros, a competição, a politicagem, a divisão por classes e castas (sacerdotes e levitas et caterva). 
A estalagem – o lugar que acolhe aqueles que são feridos e que não tem endereço fixo nem CNPJ.
Azeite e vinho – a unção, o batismo com o Espírito Santo e a lavagem dos pecados pelo sangue do Cordeiro. O surgimento de uma nova humanidade.
Cuidado – trato pessoal do viajante com cada ferido, sem intermediários. Já foi dito que não há mediadores entre Deus e os homens .  
Dinheiro – aquilo que deve ser partilhado, j a m a i s amado, aquilo que deve ser partilhado, j a m a i s amado, aquilo que deve ser partilhado, j a m a i s amado.
Hospedeiro – qualquer um e todos que acolhem um enfermo e que não ficarão sem sua paga, por exemplo, para citar um só: mães de deficientes, sejam físicos ou mentais.

O grand finale: não pergunte quem é o seu próximo, seja você o próximo do outro.  

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Teologia de calçada (2)

A vida como ela é

Afora o ser humano, que pode ser entendido como a obra prima de Deus, há outras duas criações que compõem o cenário da história universal e demonstram o poderoso arsenal criativo do Magnânimo.
São elas: a família e a igreja, nessa ordem.
Não há o que se possa falar da família que esgote a sua beleza, a sua  imprescindibilidade, a sua significância. É o que há, é o que fica, é para onde todos seguimos e onde todos nos ancoramos. No fim, no tempo dos homens, é o que permanece. É onde Deus se faz presente quase que corporeamente e onde a quintessência das relações pode ser vivida à exaustão, seja na relação conjugal, seja na relação paterno/filial.
Quem descobriu a família descobriu um tesouro de valores eternos, etéreos, cujos valores não são afetados, tampouco estabelecidos, pela valoração do vil (e maldito) metal.
Da igreja... é outra belezura.
Instrumento poderoso nas mãos do Magnânimo para trazer de volta aqueles que se distanciaram, seja por que motivo for.
Lugar de ensinamento, igualdade, correção, disciplina, “des”competição. Lugar que refuta politicagem, comparação, discriminação. Lugar onde não cabe hierarquia ou autoritarismo (outro nome para autoridades humanas) ou controles, de que tipo for.
Uma possibilidade, uma realidade, uma proximidade.
Uma cumplicidade, uma fraternidade, uma bondade.
Uma simplicidade, uma necessidade, uma naturalidade.
Capaz, sim, de expressar o Divino, quase que sensoriamente, pois que portadora de um dos maiores dos bens dados ao homem: uma biblioteca, com quatro livros fenomenais, dentre outros, que trazem as mais alvissareiras notícias do céu.
Bem verdade que há um arremedo, um plágio presente entre nós que pretende ser o representante do Divino, como se Ele pudesse ou quisesse se fazer representar.
Uma organização que valoriza o material, que ama o vil (e maldito) metal, que adora a hierarquia e o autoritarismo.
Um arremedo, e que infelizmente acaba por manchar a igreja, pois que faz muito barulho e anuncia-se como extensão do Divino, arrastando, assim, os incautos.
Uma hora isso acaba.

Ornitorrinco Madiba