quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Lugar algum

‘Lugar algum’ é onde chegam os amantes da discriminação, e onde eles adoram chafurdarem-se, sob máculas rasteiras e tacanhas.
Aqueles que dividem a sociedade entre ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres, héteros e homos, bem formados e ignorantes, Morumbi e Paraisópolis, Copacabana e Rocinha, Manhattan e Bronx, primeiro e terceiro mundo, europeu e africano, capitalista e socialista, árabes e judeus, ditadura e democracia, e, por fim, direita e esquerda.
Os sagrados Evangelhos, que contêm as divinas, imprescindíveis e indispensáveis palavras do Rabi de Nazaré, não contemplam NENHUM tipo de discriminação, nem a da classe sacerdotal e levitas (seja lá o que isso signifique), embora eles reivindiquem essa distinção. Palavras que insistem em deixar restritas ao meio religioso, quando já deveriam estar influenciando consistentemente os detentores do poder, se é que se pretende uma sociedade justa, igualitária, aberta, moderna, segura, saudável, educada, solidária, fraterna. Pense na virtude que quiser, ela estará nos Evangelhos.
'Lugar algum' é onde estamos.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Do dinheiro


O dinheiro é um bem público, só está em mãos erradas.
Pense comigo: o que dá valor ao dinheiro?
Só há uma resposta: o pobre, isto é, aquele que tem menos dinheiro.
Pense comigo: donde vem a força, por exemplo, da Petrobras? Essa gigante do petróleo que fatura bilhões. Vem do consumo daqueles que têm menos dinheiro, porque se ela fosse depender daqueles que têm muito dinheiro, ela não venderia tanto assim.
O mesmo raciocínio vale para as grandes construtoras. Quem compra seus apartamentos? A classe que tem menos dinheiro. Os que têm muito dinheiro até compram casas caríssimas, mas poucas, em relação aos que têm menos dinheiro.   
Se todos fossem ricos, como eles se diferenciariam? Como se destacariam dos demais?
O que o dinheiro confere? O poder da exclusividade. De se morar onde se quer e distante de quem se quer. De se trabalhar nos melhores lugares, em oposição àqueles lugares degradantes. De se trabalhar o quanto se quer, em oposição àqueles que terão que trabalhar até o seu último dia.
O dinheiro é um bem público, só está em mãos erradas.
Não! Essa não é uma crítica a quem amealhou bastante dinheiro por sua própria capacidade.
A questão é que dá para compartilhar bem mais do que se faz hoje em dia, afinal, o dinheiro é um bem público.

Em tempo: nunca li Karl Marx, o que inclui o seu “O capital”. Nem sei se ele trata disso. Só não quero deixar no ar qualquer associação com quem quer que seja.  

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Três barcos e um urubu

Essa é a história de três barcos.
Um, era desses iates ultra mega blaster super modernos. Heliponto, internet de altíssima velocidade, todo revestido em ouro, 4 andares. Um palácio sobre águas.
O outro era dessas lanchas moderninhas, velozes e que servem para dar um “role” em fins de semana.
O outro. Bem, o outro era um barquinho de pescador, desses bem precários, sem nenhum aparato moderno, com uma rede já cansada de tanto trabalhar.
No meio do feriado prolongado, o iate saiu de rota, certamente o capitão estava na internet, e avançou praia a dentro abalroando o barquinho do pescador, destruindo-o por completo. O marajá de dentro de sua suíte começa a soltar impropérios para o pescador: “Por que você existe? Por que você não morre? Gente mais indigna e idiota. Suma daqui”.
Os jovens que estavam na lancha ficaram olhando, espantados com tamanha tragédia.
O pescador, sem falar nada, nadou até o que sobrara do barquinho e foi tentando juntar as madeiras para ver se conseguiria reconstruir a sua nave.
O urubu? O urubu ficava só olhando.

Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.