terça-feira, 10 de novembro de 2020

A religiosidade

Nesses nossos tempos ficou meio que moda falar e posicionar-se contra a religião/religiosidade.
Eu mesmo já o fiz e faço. Por óbvio que não por moda, que modas me afetam bem pouco, pra não dizer nada.
Vou tentar explicar a que me refiro quando referencio a religiosidade.
Quando a religiosidade aponta para cultos, templos, usos e costumes e afins eu nem tenho tanta reserva não. Essas são instâncias válidas e até necessárias para quem está chegando à fé. Eu precisei disso por um período da minha vida e elas não são intrinsecamente más. Há mesmo certa poesia e beleza nessas práticas, que não, necessariamente, têm a ver com o evangelho.
Direi, então, a que me refiro quando questiono a religiosidade a partir da origem da própria palavra.
Já é dado que o termo vem do latin religare, que, em tese, aponta para um processo de religação do homem com deus.
Oras! E não é válido esse processo? Claro que é.
O problema não está no homem religar-se, não está no processo de religação, o problema está no deus a que se religa.
Em que pese o fato que a vida é uma relação de poder e que deuses se destacam exatamente por isso, por terem poder sobre os seus crentes/súditos/seguidores/admiradores, então se estabelece que deuses e poder formam essa entidade divina que tem os mais diversos nomes e representações e influências e domínios.
Quem quer que exerça o poder sobre um outro, seja ele quem for, é o seu deus e a religião, quando liga (ou religa) alguém a esse deus, passa a ter uma conotação e prática deturpadas.
Quem pode ser o seu deus em nome de quem você pratica a sua religião?
Não sei. Pense aí.
O que posso é dar algumas dicas: seu marido, sua esposa, seus filhos, seu pastor, seu padre, seu professor, seu discipulador, seu mestre, sua igreja, o artista, o dinheiro, seus bens, sistemas políticos. Se algum desses, ou seus assemelhados, exerce poder sobre você, logo… ele é o seu deus e a religião decorrente está deturpada e invalidada.

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