segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O indecifrável


O Nazareno era absolutamente indefinível, surpreendente, imprevisível. Era heterodoxo a tal ponto que foi tido por muitos como herético e iconoclasta. Chocante ao extremo, raramente respondia às perguntas que lhe eram dirigidas, mesmo porque não dava para travar um diálogo com seus interlocutores tamanha a diferença de parâmetros entre eles, apesar de ser Ele a resposta para tudo.
O Galileu fez e falou coisas impensáveis e desqualificatórias para um fundador de religião, logo... não o reduza a um fundador de religião.
Ele não seguiu nenhum script. Não interpretou nenhum roteiro. Não se enquadrou em nenhum esquema. Não se encaixotou em nenhuma regra.
Absolutamente independente, tinha compromisso com Deus e com o carente e o doente. Os que não se enquadraram aí tiveram pouquíssima chance com ele.  
Provocador, instigante, perspicaz ao mesmo tempo que meigo, acessível e cheio de paz.
Destemido, ousado, intrépido, revolucionário, humano.
Ponto de encontro, interseção do humano com o divino.
Nele, Deus compreendeu o homem e pôde, então, resgatá-lo.
Suas palavras foram, e são, verdadeiros “arrasa quarteirão”. Os estudiosos, filósofos, sociólogos, teólogos, antropólogos, psicólogos não conseguem enquadrá-lo. Impossível.
Veio, aconteceu e foi-se.
Foi nada. Se você está lendo isso aqui, saiba: Ele está aí. Do seu lado. Não me pergunte como. Nem pra Ele. Não adianta, acho que Ele não responderá. É mais ou menos como o sol, mesmo na noite, nós sabemos que ele está lá do outro lado e breve aparecerá.
Maranata!

sábado, 29 de outubro de 2011

Confiscçssão


Tenho andado deveras triste.
Tenho acreditado nas pessoas, mas parece que elas não me compreendem.
Tenho tentado falar com as pessoas, mas parece que elas não querem falar comigo. Parece até que sou um estranho para elas. Eu reconheço que tenho diferenças, mas não há intenção melhor que a minha.
Eu olho... penso... o que mais eu poderia fazer?
Já abri mão de tanta coisa, fui ao meu limite, que não é pequeno.
Se é tênue, e é, a linha que separa a possibilidade da concretude, eu estou disposto a quebrá-la, para ver se as pessoas se tocam, mas parece que não, parece que elas querem viver no condicional, nesse recorrente “mas... e se...” e não saem disso.
Eu convido, interpelo, esclareço, animo, mas a lassidão, o cansaço, a fadiga, o tédio parecem ser mais forte!
Parece que as pessoas vivem em absoluta suspeição de que há um jogo de interesse em curso. Mesmo porque elas querem isso, elas querem saber que vantagem elas terão em se relacionar comigo, quando o que eu quero é andar junto, cada um fazendo o que tem que ser feito.
Sei que sou um pouco complicado de entender, em contrapartida, sou extremamente transparente, essa segurança eu sei que dou para as pessoas.
Alguém aí quer elevar o nível, mudar de parâmetro, ir além, navegar em outros mares, flutuar em outros ares?
Alguém aí quer crescer, desenvolver, exceder, transcender?
Eu estou aqui, vocês sabem onde me encontrar.   

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A agenda positiva de Deus

A agenda positiva de Deus é Jesus. Tudo se resume nele, e só nele, e no que ele disse.
Veja a diferença:
Não matarás, não cobiçarás, não roubarás, não darás falso testemunho, não adulterarás... não... não... ou seja, não faça para o outro o que você não quer que façam para você.
Aí vem o Nazareno e diz: faça para o outro o que você quer que façam para você.
Mais difícil hein?! Bem mais difícil.
Será por essa dificuldade a insistência nas coisas do Velho Testamento?
Será por isso que os discursos do Nazareno são relegados à prateleira das obras bonitas?
Fato é que o Velho Testamento não tem capacidade de construir discípulos. Só o Evangelho tem essa capacidade, se considerado os discursos do Nazareno.
1 - As histórias do Velho Testamento são h i s t ó r i a s. Belas histórias. De conquista, de vitória, de livramento, de provisão, de prosperidade. Mas são histórias e servem para ilustrar uma narrativa do poder de Deus, contudo não podem ocupar um lugar decisivo na construção de discípulos. Elas não têm esse poder. Elas produzem admiradores, não mais que isso.
Jesus está atrás de mais do que admiradores. Pilatos o admirou e...
Jesus está atrás de mais do que seguidores. Judas o seguiu e...
Jesus está atrás de mais do que pessoas interessadas. O povo tinha interesse Nele e...
Jesus está atrás de mais do que adoradores. Um endemoninhado o adorou!
2 - As figuras do Velho Testamento são f i g u r a s. Ponto. Por que fazer delas mais do que figuras e resvalar para sofismas, para mistérios, para conhecimento para iniciados?
A resposta para os problemas do mundo foi simplificada e reduzida a um ponto, a um Verbo, a uma Palavra à qual se tem acesso nos evangelhos, do qual a igreja é portadora e onde ele deve ser vivido para imediatamente em seguida ser estendido ao mundo que anseia pela manifestação dos filhos de Deus.
Se a gente quer ver a coisa mudar, precisamos repercutir, reverberar as p a l a v r a s do C r i s t o. Precisamos aumentar em muito o nível do quanto s u a s palavras são faladas, ouvidas, argumentadas, refletidas, seguidas.
O efeito contrário é essa pasmaceira que ninguém mais aguenta.
Já estou descobrindo porque as pessoas não gostam do evangelho. Lá não há espaço para devaneios religiosos sincréticos. Lá tem o ladrão que foi direto para o paraíso sem ter que fazer nadica de nada dessas peripécias apresentadas hoje em dia pelos “pregadores” modernos.
Interaja sua agenda com a agenda de Deus e é certo que você se dará bem, e o "mundo" agradecerá.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Pode um grão de areia falar de Deus?

Percepções de um andarilho

Onde ele não estará? É onipresente.
Seja  nas abissais profundezas dos oceanos, no cume mais altos dos montes,
nos planetas vizinhos e talvez nos distantes,
nos estéreis escritórios nas grandes corporações,
no parque de diversões,
no mar, na terra e no ar,
no piso da sala de jantar,
no casebre à beira do rio,
componente primário, essencial e indispensável da estrutura que sustenta qualquer edifício,
no esporte, no lazer, nas férias na praia ou no campo do inverno ou do verão,
na referência bíblica ao número dos descendentes de Abraão.
Nada reivindica, nada reclama, não nega nenhuma tarefa, nunca se dá por escusado.
Multiuso: na limpeza, na decoração, na formação de riqueza, na construção.
Não se exauri, sob certo aspecto incontrolável, indestrutível. Pode ser letal.
Sem valor se sozinho, mas unido a outros, invencível.
Estava na aurora da história e estará no seu ocaso.
Remete à ideia de algo superior.
Pois não é que um grão de areia fala de Deus!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sentando a pua I

Deus não tem representante na terra.
Ele representa apresenta a si mesmo.
A cada hora surge algo ou alguém dizendo-se o porta-voz de Deus, com o mover do momento. É modismo atrás de modismo. Essas pessoas representam a si mesmas e já nem chocam mais.
Personalidades alucinadas, crápulas insaciáveis dirigindo organizações piramidais que de evangelho não têm nada. O que essa gente faz é oprimir, é subjugar sob ameaças, sob o medo, sob a culpa.
Quem representa, via de regra, dissimula, engana. Especialmente os que estão na mídia, é do jogo, mas não só estes. Há muita gente em grupos menores se prevalecendo dessa condição de representante de Deus a que as pessoas os colocam.
Veja a democracia. No caso da brasileira, uma democracia representativa em que se elege representantes. Saia à rua e veja se encontra alguém, com um mínimo de bom senso, satisfeito com seus representantes! Esse negócio de representação não funciona não.
Deus não tem representante na terra. Ele tem um Corpo. Corpo que o expressa, fidedignamente. Tal cabeça, tal corpo.
Esse Corpo está aí. Procure que você encontra. Gente do bem, segura de sua condição. Gente que não tem medo da concorrência, que não tem medo de perder “seu lugar”. Gente que mora aqui, mas pertence a outro lugar. Gente que sabe para onde vai e não se deixa levar ao sabor das novidades.
Gente que presenteia o mundo com a presença de Deus.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

7 - Será o nosso Deus um narcisista?

Quererá Deus receber de nós esse tipo de adoração que consiste de ficar repetindo domingo a domingo que ele é grande, santo, justo, maravilhoso, único?
Terá ele essa necessidade de ter seu ego (humm... será que ele tem ego?) inflado por palavras bonitas repetidas vezes sem fim? Adoração é isso?
Precisará ele dessa afirmação por parte de suas criaturas?
Jesus veio ensinar a verdadeira adoração em oposição à que se praticava em seu tempo (seria então falsa essa adoração? Esse Jesus!), da qual ele seria também “objeto”. A rigor, no modelo antigo, até um endemoninhado poderia adorá-lo (Mc 5:1-6). Fácil. A adoração consistia de gestos, rituais e palavras, podendo ser, e eram, palavras cantadas. Havia um grupo especializado na arte, os levitas, os adoradores oficiais. Havia um lugar especial para esse tipo de adoração. Havia um tempo especial para esse tipo de adoração.
Quererá o nosso Deus esse tipo de adoração?
Será legítimo ainda ter grupos de adoração, especialistas, à parte da congregação, que lhe conduza em adoração? Não deveria ser toda ela, a congregação, adoradora? Oras, se há um grupo de adoradores, o que é o outro grupo? Haverá ainda um tempo e um lugar específicos quando e onde se deve praticar a adoração?
A verdadeira adoração se faz em verdade e em espírito. Espírito é vento, vento é ar em movimento, ar em movimento é fôlego, fôlego é vida, vida de Deus que vem (Gn 2:7), vida minha que vai (Jo 15:13 - Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos).
Adoração é transferência, é troca de vida. Dou a minha e recebo a de Deus. Menos que isso é adoração à moda antiga. Inclua-me fora.
Esse tipo de adoração somente quem é discípulo é capaz de fazer/prestar/dar/praticar. O que, evidente, inclui o engrandecimento do nome de Deus. 
Lembre-se: para ser discípulo de Jesus, há que se carregar uma cruz. Um não existe sem o outro.
Jesus teve simpatizante secreto (Nicodemos Jo 3:1), admirador (Pilatos Mt 27:13-14), catador de suas bênçãos (o povo Jo 6:26), patrocinador arrependido (jovem rico Lc 18:18), defensor ignorante (Pedro Mt 16:23), seguidor (Judas Lc 22:47) e adorador (o adorador possesso Mc 5:2), mas, de verdade, ele procurava os verdadeiros adoradores, cuja marca é o ombro esfolado.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Da ingratidão

Percepções de um andarilho
Convenci-me: é a mãe de todas as amarguras, causadora das mais vis sensações. Veja alguém amargurado, saiba, ele é um ingrato.
Poderosa, gera revolta até com Deus, desaguando no ateísmo, quando não, na busca de alternativas a Ele.
Insidiosa, insufla a suspeita a não mais poder.
Maligna, promove dissensões, retaliações, comparações.
Obtusa e nebulosa, faz cegar os olhos às pequenas dádivas, como às grandes.
Opressora, imprime sua marca na cara e na fala das pessoas.
Seja na convivência da família, no círculo de amizade, no ambiente de trabalho, ela está onipresentemente presente presenteando a quem ela se apresenta com lágrimas de dor. Uma dor inútil, inócua, refratária.
Está na base de todas as divergências, de todos os desencontros.
Fruto do pensamento pós-moderno do “se desejo, logo tenho direito”, tem encerrado legiões de pessoas em seus laços de amargura, tornando-as em eternas insatisfeitas.
Para o ingrato não há limite, ao ingrato nada satisfaz. Mesmo Deus, do alto de sua onipotência (seja lá o que isso signifique), não consegue satisfazer o ingrato, pois o Magnânimo não se submeterá messssssmo a essas pessoas. Se há algo com o que Deus não sabe ou não quer lidar é com pessoas ingratas. Há severas advertências na bíblia a respeito dessas pessoas.
Mas... sobretudo, a ingratidão é feia. Feia no mais brutal, tacanho, rasteiro e literal sentido da palavra.
Chocante: o ingrato não se vê ingrato. Ele se vê objeto constante das armações do mal. Ele “se acha”! E acha que o mundo está contra ele. Vive de pedir e reclamar. Sempre às voltas consigo mesmo, é um egoísta e lamento dizer: morrerá insatisfeito, seu ingrato!

sábado, 1 de outubro de 2011

Da presunção

Percepções de um andarilho
Tenho andado por aí. Conheci muitas pessoas. Me dei bem com a maioria esmagadora delas.
Tenho, no entanto, percebido que algumas dessas deixam-se levar pela presunção, entendendo presunção como o “ato de presumir”, isto é, julgar sob certas probabilidades, supor, imaginar.
Em nome dessa presunção vi amizades serem desfeitas, discussões serem começadas, julgamentos infundados serem perpetrados, feridas sangrentas serem abertas, rancores ferinos serem mantidos, “batalhas” e virulentas disputas serem travadas, acusações levianas serem desferidas, tudo em nome da presunção.
Via de regra esse sentimento tem origem na infância das pessoas em que seus pais deixavam seus filhos inseguros seja por cobranças infundadas, seja pela falta de reconhecimento do esforço delas. Assim, depois de adultas, elas acham que tudo ou todos estão contra elas, ou no mínimo, em constante observação de seu comportamento e rendimento esperando qualquer deslize para acusações e cobranças de plantão.
Este sentimento é uma prisão, que na outra ponta leva à solidão, à angústia, quando não à depressão.
Há um Caminho para se safar dessa.
Como ouvi de uma amiga, o Filho da irmã Maria taí pra essas coisas.