terça-feira, 13 de abril de 2010

O sábio, o mentor e o fanático

Diante da impossibilidade de cura pelos meios naturais, se alguém poderia socorrer o fanático por conta da chaga mortal que lhe acometia, esse seria seu mentor, pois, em tese, seria uma pessoa que teria acesso aos segredos cabalísticos e que poderia indicar o que o doente deveria fazer para “merecer” o favor do poderes superiores.
O mentor, no entanto, vendo-se incapaz de socorrer seu discípulo, sugere-lhe que procure um famoso sábio recém chegado àquelas paragens que teria, além de profunda sabedoria, poderes estranhos. O fanático segue as orientações de seu mentor/guia/pai/cobertura espiritual e sai à procura do sábio, ainda que contrariado, pois dependente de seu mentor, o que faz não sem antes beberem um copo de água juntos.
Quando se depara com o sábio, o fanático se decepciona e retorna ao seu mentor dizendo que ele não tinha aparência de sábio, longe disso, e tampouco nenhum diploma de qualquer espécie, além de ser feio e pobre, embora eloquente e destemido. O mentor reconhece que aquela figura de fato não estava de acordo com o padrão dos que se propõem a orientar as pessoas, mas que ele tinha alguma coisa de diferente e insiste com seu discípulo dizendo que ele não precisaria fazer nada além de pedir a cura para aquela figura meio esquisita. “Vai que dá certo”, dizia o mentor, “não custa tentar”.
O fanático volta, então, munido de dinheiro – vai que precisa barganhar – e de uma toalhinha, sempre providencial nessas horas, levando consigo outros portadores da sua famigerada doença, dos quais um era um tanto díspar dos demais, o que lhe valeu o menosprezo dos outros.
Ao encontrarem o sábio eles fazem o que foram fazer. Aquele homem, capaz de ler corações, percebendo a situação remete-os de volta ao mentor, pois vê neles pessoas religiosas, que queriam a cura mas não queriam abrir mão da segurança da religião que seguiam tão bem representada e dirigida por seu líder espiritual, o mentor.
Ao retornarem, se veem curados e vão correndo contar ao mentor que a orientação dele tinha dado certo e que ele sim era um grande cara, não aquele sábio estranho.
O doente que era dessemelhante dos demais não os acompanha, pelo contrário, volta ao sábio para agradecê-lo e prestar-lhe honra, o que surpreende o sábio que acaba dando-lhe um presente caríssimo que dinheiro algum poderia comprar, presente que os demais que não voltaram ficaram sem.

Qualquer semelhança não é mera coincidência.

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