Uma profunda reflexão
Tenho
algo a compartilhar que me parece algo deveras profundo.
Embora
o assunto se desenvolva mais no campo conceitual, se entendido corretamente
pode marcar a práxis do evangelho de maneira muito efetiva e positiva.
Tenho
comigo que a reflexão pode parecer sofismática, contudo, resolvi correr o risco
diante do efeito prático que se poderá produzir com a sua correta aplicação.
A
reflexão baseia-se no capítulo 17 do Evangelho de João e discorrerá sobre a unidade. Em um primeiro momento da
unidade de Deus conosco e depois dos Seus seguidores entre si.
A unidade das pessoas
divinas
Em x Com
Uma
leitura acurada e cuidadosa do texto em questão revelará que o Pai não “está com”
o Filho, mas “é um no” Filho. O Pai “é um no” Filho, o Filho “é um no” Pai.
A
preposição “com” pode dar a ideia de companhia, ou adição, dentre outros
sentidos, estabelecendo uma relação, mas em comparação com o “no/nele” acaba
tendo um impacto menor, bem menor.
Veja.
“No/nele”
é a junção da preposição “em” (similar ao “com”) mais o artigo definido “o”, ou
mais o pronome pessoal “ele”.
A
preposição “em” também estabelece uma relação de duas partes e para formar o
“no” ou o “nele” pede um complemento (artigo definido ou pronome pessoal: mim,
ti, ele, você, etc.).
É
sabido que o artigo definido, gramaticalmente falando, é muito forte, conforme
breve definição a seguir:
Artigo definido: Possui a função ou capacidade de identificar algo ou alguém e, para
tal, pressupõe-se conhecimento sobre o que se fala, sobre o assunto em questão.
Pronome pessoal, por si só, denota
pessoalidade.
Ser x Estar
É flagrante,
salta aos olhos, a prevalência do verbo “ser” sobre o verbo “estar” no trecho
citado. Por duas vezes Jesus usa o verbo “estar” (v. 12 e 24), no mais das
vezes ele usa, invariavelmente, o verbo “ser” estabelecendo que a unidade
divina não é de “estar com” mas de “ser em”.
O
Filho “é no” Pai, o Pai “é no” Filho.
A unidade das pessoas divinas com as pessoas humanas
Por
incrível que possa parecer, o mesmo padrão de unidade vivido pela Divindade
Santa - o Pai e o Filho - Jesus estabelece que deve ser vivido por seus
seguidores em unidade Neles e em unidade entre si, o que, seguindo o
raciocínio, leva a dizer que não “estou” em unidade “com” o meu irmão, mas “sou
um nele”.
A ler
a oração do capítulo 17 de João, esse é um corolário inescapável.
Muito
forte isso. Por utópico que possa parecer.
O alimento
Dessa
percepção pode-se compreender a razão do uso do alimento como instrumento da
interação das pessoas (divinas e humanas) seja em um contexto virtual,
metafórico ou alegórico, o Jardim do Éden, seja em um contexto concreto,
literal ou espiritual, a Santa Ceia.
Já
foi dito: “eu sou aquilo que eu como”.
Oras!
O que eu como não está “comigo”, mas em está “em mim”.
Se
é verdade que o que eu como não está “comigo”, mas “em mim”.
Se
é verdade que a árvore da vida do Jardim do Éden era Jesus da qual o primeiro
casal devia ter comido e não comeu, tendo sido impedido de fazê-lo por ter
comido de outro alimento.
Se
é verdade que o Pão da Vida é Jesus e que nós devemos “comê-lo”.
Se
é verdade que a Santa Ceia é o ponto alto da fé e que quem a toma sem
discernimento está em apuros.
Se
assim é, eu devo entender que não sou chamado para “estar com” Deus, mas para
“ser um Nele”.
Ser
um Nele e ser um nos irmãos.
Conclusão
“Estar
com” é terreno, finito, passageiro, tem prazo de validade, serve ao gosto de
cada um.
“Ser
em” é divino, transcendente, não acaba, prevalece, até da morte.
“Estar
com” vive de regras e distinções, depende de hierarquias e é estabelecida por
um sistema de autoridade. Irrelevante.
“Ser um” vai ao âmago, ao cerne, toca o Trono.
Imprescindível.