Então Jesus, chamando-os para junto de si,
disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os
grandes exercem autoridade sobre eles. Mt 20.25
O
verso acima é único nos evangelhos. Não tem paralelo.
Dessa
unicidade surge sua importância, vez que do conteúdo desse verso se pode
extrair, sem distorções, os pensamentos do Nazareno a respeito do sistema
político que operava na sociedade de então e que vale para as gerações
seguintes, posto que tudo o que saiu de sua boca é perene, certo, absoluto e
inconteste, bem diferente de qualquer outro personagem bíblico ou histórico.
Necessário
se faz explorar esse verso em cada nuance para se chegar ao conceito do
Nazareno em relação ao sistema de administração da sociedade que ele tinha em
mente, complementada com os dois versos seguintes ao apresentado acima.
Príncipes
que dominam e grandes que exercem autoridade.
-
O termo “príncipe” aponta para o poder absoluto muitas das vezes exercido
hereditariamente (a instituição “herança” é um problema para a raça humana),
independente da postura e contexto ético/moral de quem o exerce. Aponta para
privilégios exclusivos, para o hedonismo, para o despotismo, para o
distanciamento discriminatório, para a satisfação dos mais absurdos, rasteiros e
abjetos desejos, para o desprezo das classes inferiores, para o uso
indiscriminado e arbitrário dos recursos levantados junto à população.
Há
casos em que essa figura reveste-se dos atributos da divindade em que não pode
ser contestado, questionado, contrariado. Houve um que não atribuindo a Deus a
devida honra quando confundido com Ele, morreu instantaneamente.
O
termo aponta, ainda, obviamente, para a instituição do “principal”, que só é
possível quando há aqueles que não ocupam essa condição, ou seja, para existir
o principal presume-se que existam outros que não o são, modernamente chamado
de hierarquia em que o principal é o que ocupa o topo da pirâmide. Cuidado!
Saia daí. Se não de fato, pelo menos de direito.
Qualquer
líder em qualquer área da existência humana é geneticamente vocacionado a
exercer o papel de príncipe, posto que a queda da raça humana foi geneticamente
arquitetada por um príncipe. Natural que seja assim.
-
Dominação sugere controle, às vezes até mental, das massas, ou de parcelas
delas, grandes ou pequenas. Sugere maquiavelismo, bem como o uso e abuso das
forças policiais, sempre a seu serviço. Dominação que se expressa no controle
do ir e vir, da ascensão social, da manutenção dos estratos sociais em seus
limites, da inacessibilidade aos direitos mais primários, no desfazimento das
aspirações populares. Expressa-se também pelo controle da força do trabalho das
pessoas, ainda que para isso tenha que recompensar abundantemente a fim de
mantê-las onde estão. Está presente em todas as instâncias da vivência humana,
desde a família em que maridos dominam sobre esposas e pais sobre filhos, ao
campo profissional em que patrões dominam sobre operários, e mesmo ao mundo
religioso em que sacerdotes dominam sobre os leigos. Ingrediente fundamental
para a dominação: divisão de classes. Sem isso é impossível o domínio de uns
sobre outros, com destaque para o execrável domínio dos brancos sobre os
negros.
Dominação
principesca é muito próprio do anjo caído.
-
Grandes. Para existir os grandes é preciso existir os pequenos. Isso é o
recrudescimento do estabelecimento da divisão de classes. Os grandes são
grandes no tamanho opressor, na representatividade de si próprio, no poder
despótico, na influência onipresente. Grandes são grandes apesar do que quer
que seja. A natureza do “ser” grande é estimulada por e estimula a competição
pelo ser melhor que o outro. Ao grande importa ser grande e crescer. A grandeza
só se mantém se ela for dinâmica, por isso, quem é grande não pode parar de
crescer. Isso responde muita coisa. O grande alimenta-se do pequeno, e sem ele
não existe. A neurose do grande é a possibilidade de um dia o pequeno acabar.
Já foi dito que em 2014 a riqueza dos 85 mais ricos é igual a 3,5 bilhões dos
mais pobres. Grande essa diferença. Um dia alguém pagará essa conta.
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Autoridade. Aqui mora uma das maiores distorções da raça humana, seja no âmbito
social ou religioso.
No
mundo religioso essa distorção nasce de uma frase escrita por um autor em que
ele diz que toda a autoridade vem de Deus. É obvio que o autor disse isso em um
contexto policial para a manutenção da ordem pública. Ali fala-se de espada,
aquele instrumento cortante e pontiagudo. (Nota: aqui não cabe o sentido
figurado aplicado à espada). Aliás, amigos desse autor eram desobedientes
quanto à ordem de se calarem ante a possibilidade de falarem das coisas de Deus
e acho que ele aceitava isso naturalmente.
Ao
tema: Alguém dirá que Deus avalizava Nero, Hitler, Stalin, Castro, Bush et
caterva?
Por
outro lado, no âmbito social, a autoridade vem do sufrágio universal em que
paradoxalmente se dispensa o poder de Deus (“todo poder emana do povo e em seu
nome é exercido”).
A
distorção mora aqui pois autoridade vem de autorização. Alguém só pode exercer
uma relativa autoridade se autorizado por Deus, que é o dono do “negócio”. Se
Deus é retirado do negócio, logo, todos estão desautorizados.
Pretender
usar de autoridade sem a autorização de Deus é usurpação.
Evidente
que não se está preconizando a anarquia, que é a negação da autoridade. Fato é
que autoridade só pode ser exercida por quem é autorizado por Deus. A
prerrogativa de exercer a autoridade não está aberta e não é conferida a quem
se acha capaz e preparado para exercê-la. Mais: essa autoridade (decorrente da
autorização) não pode ser tão somente estabelecida pelo voto. Há mais a
considerar, muito mais. Enquanto as palavras do Nazareno não forem consideradas
dignas de afetar o cotidiano das pessoas será esse caos que se vive hoje em dia,
como nos dias passados. A fala do Nazareno não deve ser considerada minimalistamente
em um plano religioso. Como se Ele fosse um religioso!
A
tudo isso o Nazareno propõe uma solução, um caminho. Ele estabelece um novo paradigma.
Verifique em sua bíblia nos dois versos seguintes ao apontado acima.
Ornitorrinco Madiba