A tartaruga Sinja vendo sua situação indo de mal a
pior resolveu concorrer a um cargo no governo para tentar melhorar sua condição
e de sua família, afinal de contas o boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam
de dinheiro pra chuchu, estava tão bem e era tão próspero! Para isso tratou de
estudar a respeito da zoocracia procurando a coruja que era o bicho mais
capacitado para isso. A coruja, por fim e enfim com um aluno em mãos, iniciou
ensinando-lhe o mais fundamental, sagrado e inabalável princípio da zoocracia
formulado da seguinte maneira: todo poder
emana da bicharada e em nome da bicharada será exercido. A partir daí foi
passando outros conceitos como: a zoocracia é o poder do bicho, pelo bicho e para o bicho, todos são iguais perante a lei, etc.
O boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de
dinheiro pra chuchu, ficou sabendo das intenções da tartaruga Sinja e começou a
articular-se para se precaver de qualquer tentativa de mudança, por mínima que
fosse, no cenário geral da Floresta Brasilis que lhe era tão conveniente,
colocando as antas para fazer lobby junto aos outros bichos.
A tartaruga Sinja foi aprimorando seu aprendizado da
zoocracia admirando-se do quão bom e bonito era esse sistema, embora a coruja,
honesta que era, houvesse falado que já havia sido dito que “tirante todos os
outros sistemas a zoocracia era o pior deles”.
Nisso, o pombo-correio veio trazer informações a
respeito de uma comunidade existente na Floresta Brasilis formada por bichos
vindos de outra floresta. Era a comunidade das ovelhas. Não era uma comunidade
fechada, qualquer bicho poderia fazer parte dela, até o boi Tatá, irmão do boi
Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu, poderia entrar, embora fosse muito
difícil, pois teria que passar por um buraco do tamanho do furo de uma agulha
para entrar lá. Imagine! O que chamava a atenção mesmo nessa comunidade era que
entre eles não havia a zoocracia. O poder nessa comunidade provinha de outra
origem que não dos próprios bichos, no entanto, a igualdade lá não era somente
um direito mas um fato, diferente da atual situação da Floresta Brasilis. Nessa
comunidade todos eram absolutamente iguais, ninguém se destacava dos outros,
ninguém tinha melhores acomodações que os outros, nenhuma delas passava
necessidade ou qualquer tipo de privação pois as ovelhas repartiam o que elas
tinham entre elas e até com os outros bichos que elas sabiam que estavam em
apuros.
O boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de
dinheiro pra chuchu, ficou sabendo das atividades do pombo-correio e mandou às
antas prenderem-no, fazendo-o calar. Na verdade ele queria prender também a
coruja, mas daria muito na cara o seu “maucaratismo”. O boi tem urticária por
notícia nova e boa. Para ele quanto pior, melhor. Por conta dessa atividade
toda o boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu, não
estava conseguindo tempo para estrear as 600 patas eletrônicas que ele havia
adquirido, as quais se somariam às suas 66 outras.
Por falta de maiores esclarecimentos a respeito
daquela comunidade da qual o pombo havia falado, a tartaruga Sinja teve que
desenvolver seus conhecimentos sobre a zoocracia com as informações passadas
pela coruja, tendo em mente o forte propósito de concorrer a um cargo na
próxima eleição.
O boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de
dinheiro pra chuchu, já tinha os votos de todas as antas e de todos os alegres
e saltitantes cervos, pois em troca dos votos deles eles recebiam uma porção de
uma ração importada que era uma delícia. Essa ração era coisa fina, de marca e
era a sensação da floresta. Esperto que só, o boi Tatá, irmão do boi Tutu, os
que gostam de dinheiro pra chuchu, partiu pra cima de vez aumentando o poderio
das antas no lobby que elas faziam junto aos demais bichos dizendo para eles
abordarem principalmente as formigas por três motivos: de longe elas formavam o
maior eleitorado, eram muito disciplinadas, não tinham tempo para nenhuma outra
atividade que não fosse o trabalho, sequer para estudar elas tinham tempo. O
boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu, mandou as
antas entregarem uma folhinha de pau-brasil para cada formiga em nome de sua
bondade. O interessante é que em cada folhinha o boi Tatá, irmão do boi Tutu,
os que gostam de dinheiro pra chuchu, conseguiu imprimir a sua foto. Coisa de
última geração. O boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra
chuchu, acreditava na zoocracia e na igualdade que ela propunha com dois
pequenos detalhes a mais. Para ele “uns eram mais iguais que outros” e “os fins
justificam os meios”, isso é, em nome de seu conforto e de seus bezerrinhos
vale qualquer coisa, especialmente porque seus bezerrinhos estavam cobrando
aquela viagem de férias.
A tartaruga Sinja até que conseguiria alguns votos
pois a anaconda e a mula-sem-cabeça não gostavam do boi Tatá, irmão do boi
Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu. Ela procurou o bicho-preguiça e ele
falou que do jeito que estava, estava bom para ele pois já tinha a sua árvore e
o boi não estava mexendo com ele. A posição do mico-leão-dourado foi a mesma no
que aproveitou para reafirmar sua filosofia de vida: cada macaco no seu galho e
o sol para todos.
O papagaio, coitado, só sabia falar: “Isso não é justo!”.
A tartaruga Sinja então nem quis contar com ele.
A tartaruga Sinja, vendo as atividades do boi Tatá,
irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu e percebendo seu
poderio entrou em parafuso pois a coruja a fez acreditar na zoocracia mas ela
percebeu que o que havia na Floresta Brasilis não era a zoocracia. Ela foi
procurar, então, o pombo-correio. Para sua surpresa ela o encontrou com a asa
quebrada e sem voz pois havia tomado um “susto” muito grande na prisão a ponto
mesmo de não se lembrar de nada do seu passado recente.
A tartaruga Sinja voltou então a procurar a coruja
para acertar as coisas em sua cabeça. A coruja, triste, envergonhada e
acabrunhada recebeu seu tão aplicado aluno e revelou-lhe que as coisas eram
assim mesmo, isto é, “a teoria na
prática é outra”.
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