quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

A zoocracia na Floresta Brasilis

A tartaruga Sinja vendo sua situação indo de mal a pior resolveu concorrer a um cargo no governo para tentar melhorar sua condição e de sua família, afinal de contas o boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu, estava tão bem e era tão próspero! Para isso tratou de estudar a respeito da zoocracia procurando a coruja que era o bicho mais capacitado para isso. A coruja, por fim e enfim com um aluno em mãos, iniciou ensinando-lhe o mais fundamental, sagrado e inabalável princípio da zoocracia formulado da seguinte maneira: todo poder emana da bicharada e em nome da bicharada será exercido. A partir daí foi passando outros conceitos como: a zoocracia é o poder do bicho, pelo bicho e para o bicho, todos são iguais perante a lei, etc.
O boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu, ficou sabendo das intenções da tartaruga Sinja e começou a articular-se para se precaver de qualquer tentativa de mudança, por mínima que fosse, no cenário geral da Floresta Brasilis que lhe era tão conveniente, colocando as antas para fazer lobby junto aos outros bichos.
A tartaruga Sinja foi aprimorando seu aprendizado da zoocracia admirando-se do quão bom e bonito era esse sistema, embora a coruja, honesta que era, houvesse falado que já havia sido dito que “tirante todos os outros sistemas a zoocracia era o pior deles”.
Nisso, o pombo-correio veio trazer informações a respeito de uma comunidade existente na Floresta Brasilis formada por bichos vindos de outra floresta. Era a comunidade das ovelhas. Não era uma comunidade fechada, qualquer bicho poderia fazer parte dela, até o boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu, poderia entrar, embora fosse muito difícil, pois teria que passar por um buraco do tamanho do furo de uma agulha para entrar lá. Imagine! O que chamava a atenção mesmo nessa comunidade era que entre eles não havia a zoocracia. O poder nessa comunidade provinha de outra origem que não dos próprios bichos, no entanto, a igualdade lá não era somente um direito mas um fato, diferente da atual situação da Floresta Brasilis. Nessa comunidade todos eram absolutamente iguais, ninguém se destacava dos outros, ninguém tinha melhores acomodações que os outros, nenhuma delas passava necessidade ou qualquer tipo de privação pois as ovelhas repartiam o que elas tinham entre elas e até com os outros bichos que elas sabiam que estavam em apuros.
O boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu, ficou sabendo das atividades do pombo-correio e mandou às antas prenderem-no, fazendo-o calar. Na verdade ele queria prender também a coruja, mas daria muito na cara o seu “maucaratismo”. O boi tem urticária por notícia nova e boa. Para ele quanto pior, melhor. Por conta dessa atividade toda o boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu, não estava conseguindo tempo para estrear as 600 patas eletrônicas que ele havia adquirido, as quais se somariam às suas 66 outras.
Por falta de maiores esclarecimentos a respeito daquela comunidade da qual o pombo havia falado, a tartaruga Sinja teve que desenvolver seus conhecimentos sobre a zoocracia com as informações passadas pela coruja, tendo em mente o forte propósito de concorrer a um cargo na próxima eleição.
O boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu, já tinha os votos de todas as antas e de todos os alegres e saltitantes cervos, pois em troca dos votos deles eles recebiam uma porção de uma ração importada que era uma delícia. Essa ração era coisa fina, de marca e era a sensação da floresta. Esperto que só, o boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu, partiu pra cima de vez aumentando o poderio das antas no lobby que elas faziam junto aos demais bichos dizendo para eles abordarem principalmente as formigas por três motivos: de longe elas formavam o maior eleitorado, eram muito disciplinadas, não tinham tempo para nenhuma outra atividade que não fosse o trabalho, sequer para estudar elas tinham tempo. O boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu, mandou as antas entregarem uma folhinha de pau-brasil para cada formiga em nome de sua bondade. O interessante é que em cada folhinha o boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu, conseguiu imprimir a sua foto. Coisa de última geração. O boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu, acreditava na zoocracia e na igualdade que ela propunha com dois pequenos detalhes a mais. Para ele “uns eram mais iguais que outros” e “os fins justificam os meios”, isso é, em nome de seu conforto e de seus bezerrinhos vale qualquer coisa, especialmente porque seus bezerrinhos estavam cobrando aquela viagem de férias.
A tartaruga Sinja até que conseguiria alguns votos pois a anaconda e a mula-sem-cabeça não gostavam do boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu. Ela procurou o bicho-preguiça e ele falou que do jeito que estava, estava bom para ele pois já tinha a sua árvore e o boi não estava mexendo com ele. A posição do mico-leão-dourado foi a mesma no que aproveitou para reafirmar sua filosofia de vida: cada macaco no seu galho e o sol para todos.
O papagaio, coitado, só sabia falar: “Isso não é justo!”. A tartaruga Sinja então nem quis contar com ele.    
A tartaruga Sinja, vendo as atividades do boi Tatá, irmão do boi Tutu, os que gostam de dinheiro pra chuchu e percebendo seu poderio entrou em parafuso pois a coruja a fez acreditar na zoocracia mas ela percebeu que o que havia na Floresta Brasilis não era a zoocracia. Ela foi procurar, então, o pombo-correio. Para sua surpresa ela o encontrou com a asa quebrada e sem voz pois havia tomado um “susto” muito grande na prisão a ponto mesmo de não se lembrar de nada do seu passado recente.

A tartaruga Sinja voltou então a procurar a coruja para acertar as coisas em sua cabeça. A coruja, triste, envergonhada e acabrunhada recebeu seu tão aplicado aluno e revelou-lhe que as coisas eram assim mesmo, isto é, “a teoria na prática é outra”.

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