sábado, 30 de janeiro de 2016

O deus que não conheço II

O deus irascível, que por qualquer coisa manda fogo do céu.
O deus que tem humor, e que, dependendo dele, abençoa ou amaldiçoa.
O deus pequeno e dispensável com o qual trabalha a democracia. Anátema seja.
O deus menor que o deus do capitalismo. Maldito seja.
O deus impotente, que não consegue reagir e que tem que ser defendido.
O deus que não tem todas as respostas. O Deus que conheço tem todas as respostas, pode até não dá-las todas, conforme sua soberania, mas tem todas elas.
O deus que não vê aqueles que vivem sob a ânsia da levar vantagem em tudo, sobretudo quando isso significa prejuízo do outro.
O deus sob quem manipuladores dominam pessoas incautas.
O deus sob quem faladores abusam e estupram seus ouvintes.
O deus de uma religião, de uma seita, de uma denominação.
O deus que aprova hierarquias piramidais em que os mais fracos estão sempre embaixo.
O deus que se faz representar por autoridades humanas, cujas falas são sinos que tinem o som oco da morte.

Parei.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O deus que não conheço

O deus raivoso, briguento, seletivo – que faz acepção de pessoas, que tem privilegiados.
O deus carente, que quer ser bajulado, paparicado.
Ou o deus que pode ser cobrado, de quem se pode exigir algo.
O deus que faz trocas, barganhas.
O deus que pesa a mão. Como assim? Como se isso fosse uma rogação de praga. Tudo o que quero e preciso é que a mão de Deus esteja pesadamente sobre mim. Isso me dá segurança, proteção, orientação. Meu problema está quando Deus tira a mão. Oras! Aí estou por minha conta e risco, e certamente me darei mal.
Agora... rogar praga sobre o outro dizendo que deus irá oprimi-lo com uma pesada mão por que motivo for, esse deus desconheço.
O deus que não vê a mentira, a injustiça, o enriquecimento ilícito (e em alguns casos até o lícito).
O deus que não vê o suborno ao guarda trânsito, a ocupação da vaga do idoso ou do deficiente físico por pessoas que não são dessa classe.
O deus que dá vitória para um time de futebol!?!?
O deus que se encontra através de sacrifícios pessoais.
O deus que se rende ao mérito individual.
O deus devedor e refém de alguém.
O deus milagreiro qual gênio da lâmpada.
O deus que provoca reações esquisitas nas pessoas.
O deus que se confunde com outros deuses.
O deus fraco e pusilânime.

Parei.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Da adoração - Teologia de calçada

Em tempos antigos, pré-evangélicos, adorava-se a Deus, legitimamente, com uma adoração que consistia de canto, música, instrumentos musicais, sacrifícios, espaço físico, materiais específicos, líderes consagrados.
O Cristo veio e inaugurou um novo padrão de adoração.
Já não mais se adoraria a Deus como se Ele estivesse longe, assentado no trono, ansiando por elogios que exaltassem sua grandeza, como se fora um deus doentiamente narcisista.
Agora os adoradores entrariam “em” Deus, estariam “em” Deus e desde a mais ínfima ação (respiração=espírito) tudo o mais estaria consagrado a Deus, a seu serviço, a seu dispor, inclusive o livre arbítrio, pois não está posto que o livre arbítrio possa ficar de fora da rendição devida a Deus. Agora o adorador estaria “em” Deus, formando uma unidade com Ele. Forte, eu sei, mas é o que está escrito.
O capeta, sabedor disso, propôs ao Cristo que se o adorasse assim ele lhe daria os mundos, pois o Cristo estaria nele e ele, o capeta, o dominaria.
O ponto é o seguinte: Definitivamente, adoração no padrão do Cristo não tem a ver com música, só.
É consenso que o ser humano é um ser musical. Não há crise aqui. Fato é que música tem a ver com sentimentos, com a beleza das vibrações sonoras, é coisa da natureza que a física explica. Nesse sentido não há música sacra ou mundana, gospel ou secular. As mesmas notas, pausas, compassos e andamentos de uma se aplicam à outra. Há sim música boa ou ruim, bonita ou feia.
Contudo, o silêncio quase sepulcral dos evangelhos em relação à música é muito eloquente.

A música faz parte da adoração, o quanto eu não sei, logo... sigo a linha dos evangelhos.  

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O Deus que conheço

Não! O correto seria dizer “o Deus que não conheço”.
Levaria uma eternidade e ainda assim não o conheceria.
O Deus que habita o não lugar, o “deslugar”.
Como pode alguns pretenderem reduzi-lo, detê-lo, retê-lo em um lugar, em um perímetro?!
Oras! Deus é mais que altura e profundidade, que largura e comprimento. Se o tridimensional não pode expressá-lo, sequer o tetradimensional o pode.
O Deus que não é amor, só.
O Deus que não é justiça, só.
O Deus que não é verdade, só.
Deus é tudo e muito mais.
O Deus que vai além, que fica aquém, que não deve nada a ninguém, que age e faz como, quando e onde quer.
O Deus absoluto, resoluto, “insubmetível”, insubstituível, irredutível, imarcescível, inigualável, incomparável.
Como pode alguns pretenderem enquadrá-lo, encaixotá-lo, representá-lo?!
O Deus que compreende, que surpreende, “incondenável” e que não condena, inculpável e que desculpa, incomensurável mas que conhece todas as medidas.
O Deus intangível, no entanto, presente, intocável, no entanto, próximo, exigente, no entanto, longânimo, perfeccionista, no entanto, solidário. 
O Deus que se basta, mas que, em sua plenitude, compartilha.
O Deus com quem não se barganha, pois, não há o que possa receber.
O Deus que só não conhecia a crueza, a dureza da carnalidade humana. Pois em Seu Filho conheceu-a e proveu-lhe, assim, salvação.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Uns e outros

Os de lá: do Planalto, de Copacabana, da Paulista, do condomínio bacana
Vêm com prepotência, com mentiras, com abusos, com feridas
Os de cá: das comunidades, das vilas, dos bairros, da periferia
Vêm com resiliência, com paciência, com persistência, mas com senso de urgência  

Os de lá: dos tribunais, das comissões, dos plenários, das indicações   
Vêm com nepotismo, com combinações, jogos escusos, malversações
Os de cá: das lotações, das vans, dos trens, da febre terçã
Vão levando, vão vivendo, confiando no amanhã
Que o amanhã vem, que não se viva, pois, como se ele não viesse. Ah! Vem

Os de lá: dos planos de saúde, dos hospitais assépticos e proibidos
Vêm com ilusões, com falsas promessas, enganações, falsos à beça 
Os de cá: dos prontos socorros lotados, dos hospitais inúteis e depredados
Vêm com resistência, com coragem, muita dor, mas inquebráveis
É bem isso, essa gente de cá é inquebrável

Os de lá: dos escritórios bem localizados, suntuosos e dos carros blindados
Vêm com corrupção, com ânsia de vantagem, com mentiras e libertinagem
Os de cá: dos macacões, do relógio de ponto, dos uniformes, a cada dia um conto
Vêm com tristeza, com agonia, mas mantêm a sina do dia a dia
Que um dia a coisa vira, um dia a coisa muda. Ah! Muda

Os de lá: do capital, do lucro incessante, do rentismo, do juro asfixiante
Vêm com acumulação, com enriquecimento, com concentração, com rendimento
Os de cá: dos financiamentos, das prestações, das contas, dos cartões
Vêm com honestidade, com pagamento, com quitações, e novos financiamentos
Bem verdade que há elementos que navegam entre os dois extremos


Assim é, acho.