Vim, vi e venci
Eis-me aqui
Eu excedi, transcendi
Fui ao extremo, ao limite
Da dor, da depressão, da traição
Do esgotamento, da ira, do escárnio, da desolação, da
solidão
A dor lancinante, o coração ofegante por pouco não me tiram
a consciência
A carne rasgada, a cabeça perfurada por pouco não me tiram a
razão
As moscas rondando as narinas, o sangue misturado ao pó, o
meu próprio mau cheiro por pouco não me levam ao desespero
De fato, não é coisa pouca habitar um corpo humano
Eu sei que eu disse: “o espírito é pronto, mas a carne é
fraca”
Quase sou obrigado a refazer, pois o espírito é fraco, e a
carne está sempre pronta, pena que para o que é mau
Eis-me aqui, fruto disso
Por um instante, não mais que isso, estou preso
Atado, mãos e pés, por cravos cruéis
Dura coisa é não poder alcançar mais pessoas, falar com
elas, curá-las, libertá-las
Dar-lhes um sentido de vida
Fiz-me igual a elas, pior, rebaixei-me ao mais baixo nível
Expus-me, nu, em espetáculo, em plena vileza
Neófitos não entenderão
Pusilânimes se acovardarão
Pois, por um instante, o inimigo parece ter vencido
Haja vista a festa, os risos
Breve sairei daqui
Para habitar um Trono e o coração dos meus
Breve a limitação física não mais será um obstáculo
Breve correrei mundos, qual dona de casa a varrer o chão em
busca da moeda perdida
O farei por corações em que reinarei absoluto
Muitos há que, do alto dos seus próprios tronos, falarão em
meu nome
Não os conheço
Muitos há que, do alto de templos suntuosos, curarão em meu
nome
Não os conheço
Muitos há que, do alto de púlpitos famosos, pregarão em meu
nome
Não os conheço
Não terei representantes, não terei dirigentes atuando em
meu nome
Eu mesmo, pessoalmente, me farei presente pelos corações em
que reinarei absoluto
Esses, jamais, retrocederão, jamais se decepcionarão
Esses, qual seu Senhor, “tombarão, enfim feridos, mas não
compactuarão”
Esses reinarão comigo para sempre
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