sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

(In)Certidão de I(n)doneidade

Nome do in-feliz (pense em inclusivo): Wani
RG (regra geral): amar; verbo transitivo, intransitivo
Ano: 2006

Introdução
Esse documento, embora contundente, tem a intenção principal de comunicar e repercutir o que tem sido minhas particulares reflexões com suas naturais e práticas implicações e consequências e assim demonstrar quem sou. É tempo de transparência.
Quero reafirmar meu visceral compromisso com os destinatários originais desse documento (meus amigos, todos eles). Eles podem e poderão continuar contando com meu sangue e com o que quer que venha antes dele, isto é, minha força, minha inteligência (embora pequena), minha amizade, minha presença, minha alegria (por vezes misturada às lágrimas), minha cumplicidade, minha proteção. Ainda não aprendi a deixar de lado meu azedume, impertinência e rabugice, então, no pacote vai tudo junto. Quem sabe daqui a alguns anos eu não melhore?! Mas, saibam todos: meus amigos me têm por completo. Mesmo meu dinheiro – tão curto - embora tenha aprendido que ele mais prejudica do que ajuda numa relação. Precisando de mim, é só estalar os dedos.

História
Para ir adiante, preciso falar um pouco de minha história.
Converti-me ao evangelho em 1.976 aos 14 anos de idade, quando fui convidado a uma festinha de um grupo de jovens da Renovação Carismática Católica. Desculpe-me falar, mas foi uma conversão maravilhosa, dessas do tipo absoluta, isto é, num dia eu estava “no mundo”, no outro estava na igreja. Uma conversão extremamente radical.
Desde cedo me apaixonei pela Palavra de Deus estudando-a sistematicamente com os parcos recursos de que dispunha. Como nasci, cresci e me converti num contexto católico, assumi essa religião. Para se ter ideia da minha entrega àquilo que acho certo, eu participava da missa todos os dias, de segunda à sexta-feira e no domingo de pelo menos três missas, pois, assim que me converti aprendi a tocar violão, sendo então requisitado (nem era tão requisitado assim, eu me oferecia mesmo para tocar), juntamente com outros integrantes do grupo. Ia de rua em rua recolher o “quilo” para obras sociais, era responsável pelo recebimento, em casa, dos “dízimos” dos moradores de algumas ruas da paróquia, atuava intensamente nas obras sociais do grupo em que participava, dentre outras atividades. Já virei muito concreto, abri cacimba, visitei hospitais e asilos. Plantei batata, cebola, couve-flor, jiló, milho e feijão indo depois às feiras para vendê-los, transportando-os serra abaixo em um caminhão sem freio, tudo para ajudar o “irmãozinho”. Carreguei um amigo paralítico no colo. Isso mesmo. Não tinha fé para curá-lo então eu o carregava nos braços quando das visitas que fazíamos a outras comunidades. Enfeitei muita rua para procissões de Corpus Christi (nem sei se é assim que se escreve). Rezei muito “terço”. Todo sábado de manhã limpava e lavava a “igrejinha” (na verdade a matriz da paróquia). Estava no meio da multidão quando o “sumo pontífice” visitou o Brasil, passei a madrugada lá. Era a minha busca. Enfim...
Foi um período maravilhoso de minha vida, impagável, que guardo com o maior carinho na lembrança.
Com o passar dos anos fui amadurecendo e conhecendo a doutrina do catolicismo de uma maneira muito profunda, pois estudava com afinco todos os seus documentos importantes, especialmente os do Concílio do Vaticano II. Manualmente eu rascunhava um resumo desses documentos. A Rosana, então minha namorada, passava-o a limpo, tudo para torná-los acessíveis aos meus companheiros, quando descobri, by myself, que aquela doutrina, dogmas, sistema eclesiástico (clericalismo), costumes, normas, regras, etc., eram incompatíveis com a Bíblia, quando não opostos e antagônicos.
Saí do catolicismo e passei a procurar um grupo de pessoas que vivessem conforme a bíblia. Rodei esse Brasilzão aí. Cheguei a dormir na rodoviária de Brasília, pois fui a um encontro lá e não tinha onde dormir, na verdade, cá entre nós, acho que não tinha mesmo era como pagar a hospedagem, se bem me lembro.
Em 1.986 conheci um pastor, Marcos Dancuart, que me pôs em contanto com a IEFA – Igreja Evangélica do Fundamento Apostólico. Desse relacionamento resultou minha ordenação a pastor em 1.988 quando liderava um grupo de irmãos que se reunia em minha casa. Esse grupo se transformou em uma igreja, hoje uma pujante igreja em Guaratinguetá.
Em 1.991 mudei-me para Belo Horizonte por motivos profissionais. Quando voltei, aquela igreja em que congregava estava se aliançando com outro ministério. Por conta de alguns desencontros, acabei indo congregar em um grupo de uma cidade vizinha, Aparecida, que mantinha algum vínculo com a IEFA.
Por uma série de fatores, acabei assumindo o pastoreamento dessa igreja que formalizou sua associação à IEFA, quando, algum tempo depois, recebi a proposta de deixar minha ocupação e trabalhar em tempo integral para a igreja. Fiz o que pude e o que não pude, foi um dos períodos mais intensos de minha vida, mas para os irmãos de lá parece não ter sido suficiente. Hoje eles estão bem e caminhando com o Senhor. Tenho o maior carinho por eles.
Passados alguns anos fui pastorear um grupo de irmãos na cidade de Barueri, irmãos que ficaram fiéis à igreja quando da cisão ocorrida na instituição. Esse grupo hoje também é uma igreja em crescimento e amadurecimento e onde tenho encontrado abrigo e amizade. Acredito muito na igreja local. Acho que ela é a expressão de Deus na terra.
Por outro lado estou em constante ebulição, procurando aprimorar o meu entendimento da obra da redenção e fazer-me participante dessa obra com todas as variantes que se possa imaginar. Dessa ebulição surgiu a essência desse documento.

Textos da minha vida
Esses textos têm me acompanhado ao longo de 30 anos e me forçado a pensar como penso.

Mt 20: 25-28
Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir (diakoneo = serviços de diaconia) e dar a sua vida em resgate por muitos (o que seria de Jesus em nossos dias se ele se apresentasse como um diácono?).

Lc 10: 26-37
Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na Lei? Como interpretas? A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Então, Jesus lhe disse: Respondeste corretamente; faze isto e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: Quem é o meu próximo? Jesus prosseguiu, dizendo: Certo homem (humanidade) descia de Jerusalém (lugar original do homem) para Jericó e veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto (estado atual do homem). Casualmente, descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o, passou de largo. Semelhantemente, um levita descia por aquele lugar e, vendo-o, também passou de largo (representantes religiosos). Certo samaritano (Jesus), que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele. E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo (Espírito) e vinho (sangue); e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria (igreja) e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem, e, se alguma coisa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar. Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores? Respondeu-lhe o intérprete da Lei: O que usou de misericórdia para com ele. Então, lhe disse: Vai e procede tu de igual modo. A questão não é mais uma pergunta: “quem é o meu próximo?”, mas a afirmação ao outro: “você é o meu próximo”.

Lc 22:37
Pois vos digo que importa que se cumpra em mim o que está escrito: Ele foi contado com os malfeitores (?!?!). Porque o que a mim se refere está sendo cumprido.

Jo 14:17
O Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós.

At 2: 42-47
E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.

1 Co 14:26
Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação.

Ef 4: 4-16
Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos. E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo. Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens (os dons são os próprios servos de Deus que Ele dá à humanidade). Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido às regiões inferiores da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas. E ele mesmo concedeu (os servos de Deus não têm dons, eles são o dom. No inglês – NKJV- está: “gave some to be”) uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.

Cl 1: 26-27
O mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória.

1 Tm 2:5
Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem.

2 Tm 3:1-5
Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. (Dá para acreditar quem é a companhia dos amantes de si mesmo?).

Hb 7: 11-17
Se, portanto, a perfeição houvera sido mediante o sacerdócio levítico (pois nele baseado o povo recebeu a lei), que necessidade haveria ainda de que se levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contado segundo a ordem de Arão? Pois, quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei. Porque aquele de quem são ditas estas coisas pertence a outra tribo, da qual ninguém prestou serviço ao altar; pois é evidente que nosso Senhor procedeu de Judá, tribo à qual Moisés nunca atribuiu sacerdotes. E isto é ainda muito mais evidente, quando, à semelhança de Melquisedeque, se levanta outro sacerdote, constituído não conforme a lei de mandamento carnal, mas segundo o poder de vida indissolúvel. Porquanto se testifica: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.

Hb 8: 10-13
Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: na sua mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. E não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior. Pois, para com as suas iniqüidades, usarei de misericórdia e dos seus pecados jamais me lembrarei. Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer.

Hb 10:1
Ora, visto que a lei tem a sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem.

Tg 2: 1-8
Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. Se, portanto, entrar na vossa sinagoga algum homem com anéis de ouro nos dedos, em trajos de luxo, e entrar também algum pobre andrajoso, e tratardes com deferência o que tem os trajos de luxo e lhe disserdes: Tu, assenta-te aqui em lugar de honra; e disserdes ao pobre: Tu, fica ali em pé ou assenta-te aqui abaixo do estrado dos meus pés, não fizestes distinção entre vós mesmos e não vos tornastes juízes tomados de perversos pensamentos? Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o amam? Entretanto, vós outros menosprezastes o pobre. Não são os ricos que vos oprimem e não são eles que vos arrastam para tribunais? Não são eles os que blasfemam o bom nome que sobre vós foi invocado? Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem.

1 Pe 2:9
Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;

1 Jo 2:27
Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou.

Ponto de vista
Já foi dito: “todo ponto de vista é a vista de um ponto”.
Apresento o meu, o que me impede de ter a presunção de que alguém mais o tenha ou o veja como vejo. Geneticamente, em questões filosóficas, não sou proselitista. Já em questões do evangelho, sim, mais que proselitista, sou um doente maniqueísta. É o evangelho e ponto.
Do meu ponto de vista, que não é mais que a vista de um ponto, digo que não consigo me enxergar dentro de qualquer religião que exista, nem na vertente protestante-evangélica. O meu Senhor jamais tratou de religião.
Isso é uma constatação. Não é um ponto de partida, já estou no meio do caminho, tampouco é um ponto de chegada ou tomada de posição. Muito menos deve ser uma questão beligerante ou determinante para o convívio com aqueles a quem aceito e por quem acho que sou aceito.
Não adianta, por mais que queira mudar, adaptar-me, enquadrar-me, não consigo. Não vai! Já tentei mudar. Fiz Shekinah, fiz Veredas, mas não vai, então estou assumindo. Para falar a verdade, jamais me enquadrei. Atenção aqui. Sempre estive fora, embora, talvez, parecesse estar dentro, digo-o para mim mesmo. Não por hipocrisia ou comodidade ou medo. Ocorre que as coisas estão ficando mais claras agora e todos estamos em constante amadurecimento e aprendizagem. Já foi dito: “só o louco tem idéia fixa”. (Posso falar a verdade? Às vezes me sinto um pouco louco, perdido em devaneios estéreis).

Assim:
Repilo a autoridade presente na igreja evangélica – especialmente na pentecostal-neopentecostal-apostólica - que se estabelece pelo princípio da proximidade aos poderosos. Sim, porque na Roma antiga era assim, nas grandes potências atuais é assim, nas pequenas nem se fale, na Igreja Católica era e é assim, isto é, os que querem ter autoridade a conseguem aproximando-se dos poderosos e sujeitando-se a estes, para então terem a sua própria autoridade validada (quem não se lembra do centurião). Esse é o sistema terreno, humano, contaminado, afetado, pernóstico e presente no meio evangélico de maneira geral (para maiores informações a respeito, pesquisem as Assembléias de Deus e afilhadas).
A autoridade que vem do alto, pura, inquestionável, lastreada em santidade é conferida também a quem se aproxima de um poderoso, do Poderoso, portanto, conferida a TODOS, pois na Nova Aliança TODOS podem se aproximar de Deus. Se assim é, então não há quem tenha autoridade sobre os demais, ou alguém dirá que está mais perto do Poderoso do que o outro, como pretendia aquela mãe – a esposa de Zebedeu - que queria seus filhos assentados ao lado de Jesus? Se assim é então não há hierarquia. Se assim é então não há escala de pessoas mais importantes que outras.
Difícil de entender? Nem tanto.
Repilo privilégios. Será algum desvio de personalidade, algum trauma da infância? Não sei, pode ser, dou a mão à palmatória, mas que os repilo, repilo. Lugares de destaque, distinções, preferências, referências, deferências, reverências. Repilo. Seletividade, tratamento diferenciado, concessões. Repilo. Os pastores sabem do que estou falando. O chamado a ser servo seria só uma questão de semântica? Teria já o Senhor cumprido isso por nós (digo-o como representante da categoria), estando nós, então, isentos de praticá-lo, podendo assim usar e abusar das prerrogativas humanas e carnais que o cargo dispõe e que aqueles que estão “abaixo” na hierarquia gostam tanto de valorizar (não sei por que eles gostam tanto de valorizar essas coisas)? Não me parece.
Repilo a teoria da prosperidade que leva à financeirização da mensagem do evangelho. Ter como base de avaliação do outro o quanto ele - indivíduo ou coletividade – é capaz de ganhar ou arrecadar, é demais! Vale menos o dom que ele tem, ou que ele é (cf. Ef 4). Não sei, tenho a impressão que o meu Senhor não passaria pelo crivo do evangelicalismo cristão pós-moderno. Como é triste, quase vou às lágrimas, perceber pessoas preciosas, até do meu convívio, enveredarem por esse caminho, em termos de prática e avaliação. Vale dizer aqui: como é triste ver o quanto se gasta mal o dinheiro arrecadado em nome de Deus nas igrejas.
Repilo o clericalismo. Herança judaico-católica presente em todos os quadrantes do evangelicalismo cristão. Eu, saído do catolicismo, por vezes pensei que encontraria alguma coisa diferente do que vi lá. Engano. Não deu. Lá, como cá, há castas megalomaníacas, e ordens, e títulos, e separações como, por exemplo, a existente entre clero e laicato. Essa é uma tentativa de retrocesso que está sendo frustrada pelo meu Senhor. Existem hoje grupos, mesmo no interior das denominações, os quais não são enquadráveis, que estão em conformidade com o padrão de Deus.
Repilo aqueles que se colocam entre Deus e as pessoas. Cobertura?! Como assim? Quem pode estar acima das pessoas? Não pode, n i n g u é m pode estar acima de ninguém. Aos desavisados: só Jesus pode estar entre Deus e o homem, isto é, sobre o homem como seu sacerdote e intercessor e senhor e rei.
Repilo a judaização do cristianismo. Não deveria. Que tenho eu com isso? Então deixa essa pra lá.
Repilo o sincretismo religioso que usa elementos do evangelho e da bíblia para autorizar devaneios espíritas.
Repilo a americanização da brasilidade. Musicalmente inclusive. Digo-o em um contexto de evangelho, embora valha para o sócio-cultural também.
Repilo rótulos. Qualquer um deles. Pense em um... Repilo. O “termo” pastor hoje se tornou um rótulo. Então repilo. Não a função. O meu Senhor é pastor pleno na plena expressão da palavra, eu mesmo exerço o pastorado, mas o termo... repilo. Pense em outro... Repilo. Evangélico? Pense nos deputados evangélicos que roubaram dinheiro da saúde pública e depois pense nos velhinhos moribundos nos corredores dos hospitais. Agora responda sem medo e sem paradigmas pré-estabelecidos: você quer ser contado com esses?
Agostiniano, franciscano, luterano, calvinista, wesleyano, ortodoxo, fundamentalista, tradicional, pentecostal, neo-pentecostal, pós-pentecostal, judaizante, liberal, extravagante, levita, apostólico, cristão genuíno, dentre inúmeros outros, repilo. Inclua-se aí: joanino, pedrino e paulino.
Radical que era, ao extremo, Jesus não permitia qualquer tipo de distinção. Ele citou três: mestre, pai e guia – Mt 23. Evidente que os citou como representantes dessa instituição, refiro-me à instituição humana de distinção entre uns e outros. É textual o alerta: “vós todos sois irmãos”.
Se alguém pensar, ainda que de longe, que eu estaria provocando uma contradição entre as palavras do meu Senhor e as de Paulo que usou dessas distinções, digo: não estou. Não é possível contraditar as palavras de meu Senhor. O evangelho é um documento bloqueado que não aceita adulterações. Sei que Paulo não quis isso. O fato é que, embora inspirado pelo Espírito Santo, ele está num plano muito abaixo do meu Senhor. De minha parte, estou totalmente descansado quanto a saber que Paulo, jamais, quis contraditar ou acrescentar o que quer que seja ao evangelho.
Repilo a presunção, a prepotência, o pernosticismo, a vaidade, a postura de quem acha que sabe tudo ou alguma coisa, que acha que controla tudo ou alguma coisa, em qualquer área, que acha que não tem o que aprender ou que já sabe o suficiente, que acha que é dono de alguma coisa, que é indispensável.
Repilo paradigmas e estereótipos criados por não sei quem, não sei quando, não sei onde. Coisas que não têm a menor interação comigo, a menor razão de existir pra mim, que não fazem parte de minha existência. Por isso mesmo não me vejo na condição de segui-los ou de submeter-me a eles, pelo menos não daqueles que já consegui identificar (leia-se: penduricalhos carnais que querem impingir ao comportamento cotidiano – e litúrgico – dos chamados “evangélicos”).
Repilo o paradoxo entre discurso e comportamento, entre retórica e prática, entre belas palavras e comprometimento, entre essência e aparência, entre forma e conteúdo (avisei: sou um doente maniqueísta).
Repilo a mais flagrante, rasteira e capciosa afronta à mensagem do evangelho que propaga aos quatro cantos que “fomos colocados por cabeça e não por cauda”. Poucas colocações estão mais divorciadas da mensagem e espírito do evangelho.

Quem sou
- Um filho de Deus que quer, em santidade, amá-lo com toda a força, e também e nessa ordem a esposa - minha fidelíssima companheira em toda essa minha jornada. Como a amo! - os filhos, os amigos (parentes incluídos), os concidadãos, os brasileiros, enfim, qualquer um. Sem julgamentos, sem juízos preconcebidos, portanto, sem prejuízos. Sem manias, sem clichês, sem rótulos, sem acepção, sem caricaturas, sem máscaras, sem superficialidades, sem “perfumarias”. Não quero dar tampouco receber essas coisas.
- Alguém com um razoável entendimento da Palavra de Deus, da vida (será mesmo? Acho que não, cada vez mais vejo que sei menos, embora sempre com muita vontade de aprender) e que quer compartilhar sentimentos e respostas e - por que não?- perguntas.
- Alguém visceral, que costuma ir aos extremos.
- Alguém que procura a humildade. Não a humildade de pensar menos de si, mas menos em si.
- Um amante da vida, da simplicidade, do passado existencial, das crianças, dos velhos, da natureza, dos animais, da boa música, dos livros, da meditação, do silêncio, não nessa ordem. Só não me amo a mim mesmo. Essa doutrina da psicologia humanista e pós-moderna da auto-estima (seria o auto-amor?) comigo não rola. Aqui eu sempre dou uma canja para os psicólogos de plantão. Rapidinho acho que eles pensam: “Pronto! Descobri o problema do infeliz. Ele tem baixa-estima (ou seria baixa auto-estima, ou ainda baixa-alto estima. Alguém pode me explicar?)”. Não sei, acho que não, lido razoavelmente bem comigo.
- Um “ademocrata”. Não acredito na democracia. Por mais de 25 anos não tenho votado, sequer possuo título eleitoral. Talvez quando o voto deixar de ser obrigatório eu vote, porque aí ele deixará de ser um instrumento a favor dos poderosos e passará a ser uma atitude qualificada. Muitíssimo menos acredito no capitalismo globalizante, e asfixiante, e empobrecedor, e discriminador, e... tudo de ruim (Nova Orleans que o diga). Já tiveram sua chance. Faliram. Ou a sociedade descobre outro jeito de se organizar, ou já era. Verdade?! Já foi. A natureza e o meio ambiente, para dizer o mínimo, estão gritando. E o máximo, o que seria? Que tal a fome das crianças africanas? Ou os 2 bilhões de humanos (tratados por Jesus como irmãos, vide Mt 25) que vivem abaixo da linha da pobreza?

Meu desejo

Ser reconhecido pelo que sou, conforme descrito acima. Sem rótulos. Acho que desejar ser aceito seria pedir demais, seria muita presunção de minha parte.

Algumas frustrações
Ter aprendido a jogar tênis muito tarde. Estar aprendendo a dizer “não” muito tarde também. Ter que ficar longe da “véinha”.

Temores
São bem poucos. Um deles é apresentar incoerências entre discurso e comportamento. Pode acontecer, mas não será deliberado. Se alguém notar alguma, por favor, me avise, tentarei mudar. Outro seria perder a amizade das pessoas, por quaisquer motivos, especialmente dos meus filhotes. Acho que dessa meu Senhor me livrou, eles se dão muito bem comigo, mas mais lindo ainda é ver o quanto eles se dão bem uns com os outros. Essa é minha prosperidade, minha posteridade, meu legado, meu testamento. Esse será meu epitáfio.

2 comentários:

  1. Wani, meu irmão!
    Acho que posso dizer, sem medo de errar, que te conheço... Afinal, bebemos da mesma fonte e partilhamos da Água Viva que o Senhor derramou sobre nós.
    Entendo sua inquietude, pois também a tenho. Nesses momentos, é bom lembrar que nossa natureza humana é simplesmente a moldura que sustenta o retrato de Deus em nós.
    A Paz de Jesus!

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  2. Meu caríssimo, você não errou.
    Você foi um dos pilares, uma das referências quando estava sendo formado.
    Aquela Água que bebemos era e é tão viva que por ela vivemos hoje ainda.
    Recebo a paz, aquela paz inquieta da qual falava o Pe.Zezinho.

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