terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O pastor

Haverá alguém mais incompreendido?
Poucas categorias são tão ecléticas como a desse personagem, sendo possível encontrá-lo em várias versões. Católico romano ou ortodoxo, evangélico fundamentalista ou pentecostal. Culto, cheio de títulos ou analfabeto funcional. Rico, próspero, muito bem colocado, às vezes fazendo-se acompanhar das mais vis figuras sob o falso pretexto de influenciá-los ou pobretão morando em lugares totalmente indignos. Está sempre querendo crescer. Alguns são honestos e são exemplos do mais puro altruísmo. Outros são francamente interesseiros e inescrupulosos, materialistas ao extremo. Amantes da prosperidade mais que da simplicidade. Aliás, simplicidade que é a virtude que um cantor “gospel” quer imitar de Jesus. Ademais ele quer ser forte como Sansão e rei como Davi. Não é piada, ele canta isso mesmo.
Pastor. De odiado a amado, teve um, um negro, barbaramente assassinado, por ousar falar em igualdade. Igualdade?! Isso é coisa de um livretinho ultrapassado, arcaico, prosaico, démodé denominado Atos dos Apóstolos.
Em terras tupiniquins o pastor já foi mais respeitado. Era exemplo de dedicação e honestidade. Por ignorante, tinham-no como despreparado. Debaixo daqueles ternos puídos, era quase lendário. Hoje, é duro defender-lhe o caráter. Por muito capaz, têm-no como salafrário. Contudo, vez que há sempre um remanescente, procurando encontra-se bons exemplares da classe. Pessoas que vão ao extremo, seja em presídios ou hospitais, em favelas ou residenciais, em catástrofes ou em velórios, lá estão em busca de uma alma perdida.
Quem dera mantivessem sempre aquela ingenuidade original do começo de seus ministérios. Quem dera. Assim seriam, de fato e de direito, pessoas a serem imitadas. Mas, os anos se passam e com eles vão-se os mais belos sentimentos, as mais belas ações, as mais tocantes atitudes para ficar essa necessidade de destaque, de serem obedecidos a qualquer custo, de serem “honrados”, de terem primazia, de terem ascendência, de levarem vantagem, de serem reconhecidos, de serem bajulados.
Pena, pena que estão acabando, trocando o celestial pelo terreno, o espiritual pelo material, o santo pelo profano, o servir pelo ser servido.
Um consolo: haverá, há de haver, sempre, um remanescente.

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