sábado, 12 de dezembro de 2009

O profeta

O profeta, essa criatura tão... tão... que direi? Tão sem pé nem cabeça!
O profeta, cuja arma não é a palavra, tão somente, mas sua presença, sempre instigadora, por vezes, muitas, indesejada.
O profeta, jamais se adequando ao meio, parece estar sempre em devaneio, nem sempre falando coisa com coisa. Ele sabe que só se é aceito no meio quem ao meio se adéqua, mas ele não tem preço, vivendo do meio o avesso.
De uma coisa ele não é adepto. Dessa filosofia antropológica pós-moderna do “deixa a vida me levar, vida leva eu” na versão zecapagodiana, ou do “vou deixar a vida me levar pra onde ela quiser, seguir a direção de uma estrela qualquer” na versão samuelroseana dos Beatles. Oras! Já foi dito: “o acaso é a providência dos imbecis”.
Num meio densamente mitômano ele é invariavelmente visto como o do contra, pois da farsa é inimigo, do embuste, opositor, da encenação, adversário, a hipocrisia causa-lhe horror.
O profeta, sempre sozinho, um estranho no ninho, sabe não haver respaldo para suas questões. Desde tempos muito antigos vem pagando com a vida pela fidelidade à sua missão/vocação, aos seus senões, tombando, enfim ferido, mas não compactuando.
Não é um especialista. Sabe de tudo um pouco, do trivial ao essencial. Ao ignorante ou ao intelectual, ao médico ou ao louco, ao fraco ou ao poderoso terá sempre uma sacada, às vezes até bem humorada, outras, francamente ousadas, sem jamais render-se à conveniência. Não é covarde a esse ponto, nem a ponto nenhum. Alguém aí conhece algum? Dê-me o seu celular, vou convidá-lo para jantar.
O profeta, essa criatura tão intrigante, estará ainda presente entre nós? Pode ser, não será, contudo, encontrado engravatado, montado em bens advindos da teoria humanista da prosperidade, pois abdica de interesses pessoais em prol do bem comum. Sempre se oporá ao capital visto como fim, até que se entenda o dito cujo como meio para um objetivo maior, mais sublime e compartilhado, que partilhar é a essência de sua mensagem. 2008 (com sua grave crise econômica) o ajudará a convencer as pessoas a esse respeito.
Imagino-o de compleição franzina, não podendo valer-se, portanto, disso para fazer valer seus valores. Vai no verbo ou não vai. Sua oração: “Pai, afasta de mim esse ‘cale-se’”. Sua maior virtude: enverga até quase não poder mais, mas não rompe.

2 comentários:

  1. Como fico alegre de saber que ainda existem Cristãos que não colocam Deus em uma caixinha onda a liturgia religiosa funciona como o único caminho para Deus, quando na verdade ... a verdade é Jesus Cristo!

    Muito boa reflexão!
    Um forte Abraço!

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  2. Muito bom! Este é o retrato do profeta...cada vez mais raro de se ver, mas que ainda existe e resiste ao sistema...

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