Parte 3/4
Sacerdócio
Evangélico
O termo “evangélico”
aqui se refere à parte advinda do protestantismo, não referenciando o evangelho
propriamente dito.
Se o evangelicalismo
é filho do catolicismo, pois nasceu dele, e se o catolicismo é herdeiro do
judaísmo, logo, o evangelicalismo é herdeiro do judaísmo. Triste, mas assim é.
Desse modo,
percebe-se os mesmos elementos fundamentais do sacerdócio levítico nas três modalidades:
a hierarquia piramidal, a distinção entre clero e leigos e a valorização do
templo físico. Se no sacerdócio levítico esses elementos eram explícitos, no
sacerdócio evangélico eles são tácitos, embora determinantes e indispensáveis para
seu funcionamento.
O sacerdócio
evangélico, em nome dessa herança, empenha-se em resgatar até mesmo símbolos e
práticas eminentemente judaicas, como a presença em seus cultos regulares de cópias
da arca da aliança, shofar, candelabro, bandeira de Israel com a estrela de Davi
dentre outros elementos judaicos.
Aqui, como
nos demais modelos, a autoridade dos ministros é deveras e exacerbadamente
valorizada, chegando ao requinte de estender-se às suas expressões mais
elementares em que até líderes de grupos familiares são entendidos como
coberturas espirituais, sendo que essa cobertura é uma excrescência instalada
no meio que diz que os líderes são superiores aos seus liderados, postando-se
entre Dxus e eles, assumindo assim a função de mediador. Se isso se verifica
nos grupos familiares, de forma tão e mais intensa, e perniciosa, se verifica nas
instâncias superiores. Eu sei do que estou falando.
Como no
levítico e no católico, aqui também o ministro é/seria o representante de Dxus
e está/estaria autorizado a comandar a vida dos discípulos, sendo absolutamente
proibido questionar essas figuras, cuja respectiva obediência é compulsória. Esse
sacerdócio explora alguns trechos isolados da bíblia para ensinar que as
“autoridades, ou, os ungidos” não podem ser “tocados”. Outra excrescência.
Respeito é
bom e todo mundo gosta, desde que a todos indistintamente.
Essa
marcante característica presente nos modelos católico e evangélico da ampliação
do conceito da autoridade pessoal, como se isso fosse possível, é muito
peculiar, mas estranha ao evangelho.
Oras!
Autoridade não é uma coisa que “se é”, mas algo que “se tem” por um determinado
período e para uma determinada causa. É um comissionamento no tempo e no
espaço, não um estado de espírito, um estado de “ser”. Contudo, nesses
sacerdócios distorceu-se o conceito e a autoridade foi transferida para a
pessoa, impregnando-a com uma condição da qual ela não tem direito de
apropriar-se, embora “adore” ser tratada como tal.
Essa característica traz a
reboque algo que já deveria ter sido superado, mas que, paradoxalmente, foi
recrudescido, qual seja, a super valorização dos títulos com o
decorrente culto à personalidade, pelos quais cria distinções, todas, de novo, estranhas
ao evangelho.
É flagrante
a influência de outros modelos aqui como o militar e o empresarial. A coisa
toda funciona como uma empresa, como um quartel, com CNPJ, estatuto,
regimentos, diretorias, clientela (membresia), controles e o que mais convier
aos controladores. Algumas delas, pertinentes em relação à sociedade, mas sem
qualquer valor espiritual.
Há
contrapontos, vários. Por exemplo, não é raro ver ministros esgotados pelo
trabalho que se apresenta de forma extenuante uma vez que a demanda é grande,
sempre, em que, via de regra, esses ministros se percebem isolados, em alguns
casos, até abandonados, sob o argumento de que o ministério deve ser fruto de
sacrifícios, o que vale para segundos e terceiros escalões, jamais para os da
primeira classe, comumente muito bem estabelecidos.
Outro fator
fortemente presente nos três modelos de sacerdócio, com ênfase aos dois
últimos, é a questão do dinheiro.
Tudo gira em
torno do dinheiro, exatamente aquele que o Cristo acusou de mau.
As
promessas, as bênçãos, a prosperidade, o sucesso, as conquistas, os
livramentos, as vitórias, os milagres, tudo está atrelado ao dinheiro. O fiel
tem que entrar com essa parte, sob pena de não ser devidamente abençoado. Em nome dessa troca proposta
por esses sacerdotes se tem praticado as mais infames barganhas, o que acaba
por produzir um efeito colateral deveras indesejável, ou seja, a resistência do
outro público à mensagem da qual eles se dizem portadores, dada a exploração da
boa vontade daqueles que são manipuláveis com coisas dessa terra, como riqueza,
prosperidade e cura de enfermidades, quando, especialmente essa última, deveria
ser tratada de uma forma a mais sensível e digna, pois que todos são
susceptíveis a precisarem dela. A cura não deveria ser tratada como um balcão
de negócios.
Uma
característica muito peculiar desse sacerdócio é a ultra-valorização da adoração
através da música, que toma parte considerável nos cultos e em que seus
ministros chegam a ser tratados como “levitas” numa clara e indevida referência
ao ministro do culto levítico. Alguns desses ministros são alçados à condição
de astros com direito a fãs.
O meio
produz algumas peças totalmente antagônicas ao evangelho como quando em
“espírito de adoração” ministros e seguidores cantam que querem “abençoar o
coração de Dxus”. Chocante, mas é isso
mesmo, demonstrando o quanto o homem é elevado e Dxus rebaixado nesses
ambientes.
Digo de nota é o quanto o
poder sensorial da música é explorado aqui. Seja pelos ritmos alegres, seja
pelos melodiosos, produz-se uma associação desses ritmos com a adoração, quando
na verdade o que está presente é a manipulação das sensações, coisa que astros
musicais, especialmente do meio secular, sabem fazer com excelência.
Nota 1: Há
uma escusa para o sacerdócio levítico. Porque, embora tudo ali, como todo o
Antigo Testamento, aponte para Jesus, desde t o d o s os episódios, passando
por t o d o s os personagens, que sem a perspectiva em Jesus ficam sem o
sentido transcendental, sendo tão somente histórias e pessoas interessantes,
como várias outras do mundo antigo, sim, a escusa se dá porque não conheceram o
Cristo e não o ouviram, embora sentissem que algo muito grande e superior em
todos os aspectos estivesse por vir. Escusa que não se pode aplicar aos
sacerdócios sucedâneos, pois esses ouviram o Cristo.
Nota 2: É
IMPRESSIONANTE o reducionismo a que é submetido o Cristo. Um estudante de
religiões que não conhecesse a bíblia, mas tão somente a prática daqueles que
se dizem seguidores da fé bíblica, certamente colocaria Jesus entre o panteão
dos deuses, como mais um importante personagem, rodeado por alguns profetas,
reis e apóstolos.
Embora esses
que se dizem seguidores da fé bíblica tratem Jesus como Senhor, como estabelece
a bíblia, na prática, eles não agem como tal, não lhe dando a primazia
absoluta, cujas palavras proferidas por Sua boca são mais umas dentre tantas
outras, consideradas por eles tão grandes quanto ou mais, basta ver, para isso,
em que os pregadores baseiam suas prédicas.
Oras! As
palavras do Cristo são imensurável e incomparavelmente superiores a quaisquer
outras palavras proferidas e escritas por quem quer que seja. Atenção: Paulo
inclusive.
Nota 3: Com
destaque para o sacerdócio evangélico, alimenta-se e promove-se verdadeira
guerra intelectualóide em que se defende a ferro e fogo algumas linhas
doutrinárias teológicas que, dada a beligerância do confronto entre as partes,
não têm nada a ver com o evangelho.
Nota 4:
Desde tempos antigos, quando as pessoas disseram para Moisés que elas não
queriam ouvir Dxus, que era para ele ouvir Dxus e dizer para elas o que ele
havia dito, criou-se uma distorção aí. No mesmo sentido, as pessoas envolvidas
com a revelação, olharam para os povos vizinhos e viram que eles tinham reis
dominando sobre o povo, então disseram para Samuel que eles também queriam ter
um rei, renegando o reinado de Dxus. Desde então instalou-se no meio a figura
do mediador, cuja mediação só pode/poderia ser exercida pelo Cristo, o sumo
sacerdote. Fato é que os que são colocados nessa posição de mediação “adoram”
essa condição e agarram-se a ela qual âncora de navio em mar bravio.