Terra, terra, que ensurdeceste-te ante aqueles que poderiam
ajudar-te, e assim, mataste-os.
Quantas vezes quis eu recolher-te qual galinha aos seus
pintainhos, e renegaste.
Terra, que choras os fetos abortados concebidos em aventuras
inconsequentes do prazer.
Terra, que choras os óbitos precoces em terras muçulmanas,
africanas e americanas.
Terra, que pranteias os filhos abatidos de todas as classes a
serem enterrados pelos pais, quando o natural seria o contrário.
Terra, por que manténs essa desigualdade social que te faz
tão mal?
Terra, que insistes em não ver, que persistes em não ouvir.
Terra, que celebras a acumulação, e por ela, te manténs em
prisão.
Terra, que choras os filhos viciados e não te dás contas de
que o que faltou foi o aconchego de um lar equilibrado.
Terra, que lamentas os desvios e desmandos dos poderosos,
enquanto crês que o sistema por si só se resolverá.
Terra, que te indignas, mas que pela indignação te
contentas.
Terra, que optas pela superficialidade das relações
alimentada por uma tecnologia doente incapaz de alcançar o âmago das questões.
Terra, que te contentas com o circo televisivo e das redes
sociais embalando-te por datas festivas sem jamais dares um passo além.
Terra, que choras a dor da violência conjugal, das relações
pedófilas e incestuosas.
Terra, que pranteias a violência urbana que, insana, destrói
sonhos.
Terra, que barganhas o eterno pelo temporal, o transcendente
pelo material. Terra, terra, que
ensurdeceste-te ante aqueles que poderiam ajudar-te, e assim, mataste-os.
Quantas vezes quis eu recolher-te qual galinha aos seus
pintainhos, e renegaste.
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