Parte 4/4
Sacerdócio
Melquisedequeano
Diz o livro
santo, em inefável inspiração, que o Cristo é O Sumo Sacerdote, aquele que
intercede pelos seus. Que ele é o sacerdote e o sacrifício, tendo oferecido um
único e suficiente sacrifício. Ele sim está entre Deus e os homens, só ele e
mais ninguém, na condição exclusiva de mediador.
Ele é o
modelo. Ele é o padrão. Ele liberta da matéria. Já não se precisa mais de arca
da aliança, de shofar, candelabro de 7 velas, de estolas sacerdotais, de
vestuários próprios, de templos físicos, de elementos transubstanciáveis, de
dinheiro, de rituais, de relíquias, de liturgias pretensamente abridoras do
acesso ao alto, de objetos de qualquer natureza ou de mediador humano.
Por que
Melquisedequeano?
A referência
é a Melquisedeque, um rei sacerdote sem genealogia, sem começo nem fim de dia e
que em um encontro com Abraão trouxe pão e vinho, mesmos elementos usados pelo
Cristo na última ceia.
É sabido que
Jesus era judeu, e judeu da tribo de Judá, assim como Davi, seu ancestral. Como
judeu da tribo de Judá ele não poderia ser sacerdote, conforme exposto acima
que somente os pertencentes à tribo de Levi poderiam ser sacerdotes.
Mas a bíblia
afirma que Jesus era sacerdote.
O livro
harmoniza a situação esclarecendo que Ele era sacerdote não segundo a ordem levítica,
mas segundo a ordem de Melquisedeque, uma ordem superior a dos levitas, pois
diz o livro santo que os levitas, na pessoa de Abraão, deram ofertas a
Melquisedeque e foram abençoados por este, logo, se “o maior abençoa o menor”,
aqui temos o sacerdócio levítico sendo abençoado pelo sacerdócio
melquisedequeano, demonstrando que lhe é superior.
É
espetacular, mas não surpreendente que Jesus seja sacerdote segundo a ordem de
Melquisedeque.
Diz o livro
santo que Jesus elevou seus seguidores à condição de reis e sacerdotes, ou
seja, segundo o livro em outro trecho, um sacerdócio real, condição que o
sacerdócio nos modelos apresentados anteriormente não foi capaz, tanto não foi
capaz que o rei Saul atuou como sacerdote e perdeu o reinado por isso.
Atenção: o
termo “rei” aqui não referencia o conceito musical/ideológico/filosófico da
versão gospel do termo. O missivista já renegou o movimento, pois que, dentre
outros, o movimento reivindica inapelavelmente posicionar-se sempre como “cabeça”
jamais como “cauda” numa exegese tendenciosa de determinado trecho da escritura.
Aqui já não
há uma casta, uma elite, um grupo de pessoas que seriam representantes de Dxus,
de autoridades que se postam sobre os demais como que os comandando e dominando,
as chamadas “coberturas”.
O eco
reverbera bem alto desde antanho aos dias dessa graça, repercutindo que “entre
vós não será assim”.
Como Melquisedeque, que não teve
nem princípio nem fim de dias, como o vento que sopra onde quer, assim esses
sacerdotes estão à mercê do comando do Espírito Santo, fazendo o que bem Lhe
aprouver, cujo trabalho não está mais circunscrito a lugares, títulos,
ascendências, objetos, músicas, dinheiro. Aqui os sacerdotes são adoradores 24
horas por dia, não no templo, não quando cantando, não quando
ministrando, mas no trabalho, no descanso, na intimidade do leito sagrado
e do lar. Um ambiente em que ninguém é mestre, ninguém é pai (exceção
óbvia feita à progenitura), ninguém é guia, pois que o Cristo
proibiu que se tratasse o outro assim, conforme Mateus.
Nesse sacerdócio o emocional não
prevalece sobre o racional, nem vice-versa. Esses sacerdotes são treinados para
aplicarem um e outro no seu tempo adequado, como adequado é o conceito quem têm
de si, nem com a auto-estima exacerbada, nem como vítimas de falsa modéstia,
nem como triunfalistas, nem como usuários da autocomiseração. Sem clichês, sem
discurso e vocabulário formatados, sem resposta pronta pra tudo, sem apontar de
dedos.
E quanto ao discipulamento, o que
há, então? Como ele ocorre?
Há compartilhamento, muito
compartilhamento. De irmãos mais velhos, já talhados, muitas vezes na bigorna,
já experimentados, muitas vezes na crise, já escaldados, muitas vezes no
isolamento, já provados e aprovados, muitas vezes no estreito. Contudo, compartilhamento
invariavelmente sob uma relação no nível horizontal, sem ascendência, sem
preferências, sem prerrogativas especiais, sem destaque, sem poderes humanos
autoritários/despóticos/pernósticos.
O sacerdócio melquisedequeano é a
quintessência da relação humana, pois que extrapola, transcende as relações
terrenas, elevando-as a um nível superior. Aqui não há lugar para a cultura
patriarcal do machismo, tampouco para a cultura revanchista do feminismo. Aqui
não há lugar para disputas por posições, por domínio, por vantagens.
Nesse sacerdócio as barreiras
caem, todas elas. Ninguém é considerado pelo poder financeiro ou intelectual,
pela cor dos olhos ou da pele, pelo cabelo liso ou crespo, pela silhueta esguia
ou não, pelo peso ou pela altura, pelo IPTU ou pelo IPVA que paga.
Grandeza das grandezas, aqui
ninguém é tratado como igual, que ninguém é igual a ninguém. Do pedreiro ao
engenheiro, do lixeiro ao empresário, do aluno ao professor, da ovelha ao
pastor, do homem à mulher, do rico ao pobre, do preto ao branco, cada um é cada
um, com suas idiossincrasias, e, em suas individualidades, cada um é tratado
com o devido respeito que merece como ser humano, como filho de Deus e como
sacerdote, com a equidade devida e com a possibilidade de ação, ministração,
compartilhamento e ensino aberta a todos num ambiente sem distinções, sem
disputas, sem comparações.
O sacerdócio melquisedequeano é o
cumprimento da cruz, a conclusão da obra de Deus. Por esse sacerdócio o mundo
pode ser resgatado, pois que o Cristo brilha, o Cristo fala, o Cristo cura, o
Cristo salva, o Cristo media, o Cristo É, como o Pai É, como o Espírito Santo
É.
“O brilho desse mundo se apaga
ante ti, a glória dessa terra nada é”.
O sacerdote segundo a
ordem de Melquisedeque rasgou o véu. Véu que separava as pessoas da presença
santa. Véu que é a sua carne (há um mistério aqui). Sim, quando ele teve o seu
corpo rasgado pela lança do soldado, o véu do templo se rasgou sem ação
humana. Como o véu se rasgou, o sacerdócio levítico, bem como os seus sucedâneos findaram, pois eram tão somente sombras da realidade, e o homem pode agora entrar o impenetrável e falar diretamente com o Magnânimo, sem a necessidade da intervenção e mediação humanas.
O sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque fala com o homem, em sua inteireza, em sua completude, em sua condição, seja ela qual for. Ele o alcança na alma, no espírito e no corpo, ou seja, esse sacerdote não deixa o homem passando fome nem sede, de nenhum tipo, ainda que ele esteja doente, preso, nu ou seja forasteiro (ou imigrante), conforme Mateus.
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