domingo, 7 de janeiro de 2018

Teologia de calçada: Sacerdócio Levítico x Sacerdócio Melquisedequeano - Parte 3/4

Parte 3/4

Sacerdócio Evangélico

O termo “evangélico” aqui se refere à parte advinda do protestantismo, não referenciando o evangelho propriamente dito.

Se o evangelicalismo é filho do catolicismo, pois nasceu dele, e se o catolicismo é herdeiro do judaísmo, logo, o evangelicalismo é herdeiro do judaísmo. Triste, mas assim é.
Desse modo, percebe-se os mesmos elementos fundamentais do sacerdócio levítico nas três modalidades: a hierarquia piramidal, a distinção entre clero e leigos e a valorização do templo físico. Se no sacerdócio levítico esses elementos eram explícitos, no sacerdócio evangélico eles são tácitos, embora determinantes e indispensáveis para seu funcionamento.
O sacerdócio evangélico, em nome dessa herança, empenha-se em resgatar até mesmo símbolos e práticas eminentemente judaicas, como a presença em seus cultos regulares de cópias da arca da aliança, shofar, candelabro, bandeira de Israel com a estrela de Davi dentre outros elementos judaicos.
Aqui, como nos demais modelos, a autoridade dos ministros é deveras e exacerbadamente valorizada, chegando ao requinte de estender-se às suas expressões mais elementares em que até líderes de grupos familiares são entendidos como coberturas espirituais, sendo que essa cobertura é uma excrescência instalada no meio que diz que os líderes são superiores aos seus liderados, postando-se entre Dxus e eles, assumindo assim a função de mediador. Se isso se verifica nos grupos familiares, de forma tão e mais intensa, e perniciosa, se verifica nas instâncias superiores. Eu sei do que estou falando.
Como no levítico e no católico, aqui também o ministro é/seria o representante de Dxus e está/estaria autorizado a comandar a vida dos discípulos, sendo absolutamente proibido questionar essas figuras, cuja respectiva obediência é compulsória. Esse sacerdócio explora alguns trechos isolados da bíblia para ensinar que as “autoridades, ou, os ungidos” não podem ser “tocados”. Outra excrescência.
Respeito é bom e todo mundo gosta, desde que a todos indistintamente.
Essa marcante característica presente nos modelos católico e evangélico da ampliação do conceito da autoridade pessoal, como se isso fosse possível, é muito peculiar, mas estranha ao evangelho.  
Oras! Autoridade não é uma coisa que “se é”, mas algo que “se tem” por um determinado período e para uma determinada causa. É um comissionamento no tempo e no espaço, não um estado de espírito, um estado de “ser”. Contudo, nesses sacerdócios distorceu-se o conceito e a autoridade foi transferida para a pessoa, impregnando-a com uma condição da qual ela não tem direito de apropriar-se, embora “adore” ser tratada como tal.
Essa característica traz a reboque algo que já deveria ter sido superado, mas que, paradoxalmente, foi recrudescido, qual seja, a super valorização dos títulos com o decorrente culto à personalidade, pelos quais cria distinções, todas, de novo, estranhas ao evangelho.
É flagrante a influência de outros modelos aqui como o militar e o empresarial. A coisa toda funciona como uma empresa, como um quartel, com CNPJ, estatuto, regimentos, diretorias, clientela (membresia), controles e o que mais convier aos controladores. Algumas delas, pertinentes em relação à sociedade, mas sem qualquer valor espiritual.
Há contrapontos, vários. Por exemplo, não é raro ver ministros esgotados pelo trabalho que se apresenta de forma extenuante uma vez que a demanda é grande, sempre, em que, via de regra, esses ministros se percebem isolados, em alguns casos, até abandonados, sob o argumento de que o ministério deve ser fruto de sacrifícios, o que vale para segundos e terceiros escalões, jamais para os da primeira classe, comumente muito bem estabelecidos.
Outro fator fortemente presente nos três modelos de sacerdócio, com ênfase aos dois últimos, é a questão do dinheiro.
Tudo gira em torno do dinheiro, exatamente aquele que o Cristo acusou de mau.
As promessas, as bênçãos, a prosperidade, o sucesso, as conquistas, os livramentos, as vitórias, os milagres, tudo está atrelado ao dinheiro. O fiel tem que entrar com essa parte, sob pena de não ser devidamente abençoado. Em nome dessa troca proposta por esses sacerdotes se tem praticado as mais infames barganhas, o que acaba por produzir um efeito colateral deveras indesejável, ou seja, a resistência do outro público à mensagem da qual eles se dizem portadores, dada a exploração da boa vontade daqueles que são manipuláveis com coisas dessa terra, como riqueza, prosperidade e cura de enfermidades, quando, especialmente essa última, deveria ser tratada de uma forma a mais sensível e digna, pois que todos são susceptíveis a precisarem dela. A cura não deveria ser tratada como um balcão de negócios.    
Uma característica muito peculiar desse sacerdócio é a ultra-valorização da adoração através da música, que toma parte considerável nos cultos e em que seus ministros chegam a ser tratados como “levitas” numa clara e indevida referência ao ministro do culto levítico. Alguns desses ministros são alçados à condição de astros com direito a fãs.
O meio produz algumas peças totalmente antagônicas ao evangelho como quando em “espírito de adoração” ministros e seguidores cantam que querem “abençoar o coração de Dxus”.  Chocante, mas é isso mesmo, demonstrando o quanto o homem é elevado e Dxus rebaixado nesses ambientes.   
Digo de nota é o quanto o poder sensorial da música é explorado aqui. Seja pelos ritmos alegres, seja pelos melodiosos, produz-se uma associação desses ritmos com a adoração, quando na verdade o que está presente é a manipulação das sensações, coisa que astros musicais, especialmente do meio secular, sabem fazer com excelência.
Nota 1: Há uma escusa para o sacerdócio levítico. Porque, embora tudo ali, como todo o Antigo Testamento, aponte para Jesus, desde t o d o s os episódios, passando por t o d o s os personagens, que sem a perspectiva em Jesus ficam sem o sentido transcendental, sendo tão somente histórias e pessoas interessantes, como várias outras do mundo antigo, sim, a escusa se dá porque não conheceram o Cristo e não o ouviram, embora sentissem que algo muito grande e superior em todos os aspectos estivesse por vir. Escusa que não se pode aplicar aos sacerdócios sucedâneos, pois esses ouviram o Cristo.
Nota 2: É IMPRESSIONANTE o reducionismo a que é submetido o Cristo. Um estudante de religiões que não conhecesse a bíblia, mas tão somente a prática daqueles que se dizem seguidores da fé bíblica, certamente colocaria Jesus entre o panteão dos deuses, como mais um importante personagem, rodeado por alguns profetas, reis e apóstolos.
Embora esses que se dizem seguidores da fé bíblica tratem Jesus como Senhor, como estabelece a bíblia, na prática, eles não agem como tal, não lhe dando a primazia absoluta, cujas palavras proferidas por Sua boca são mais umas dentre tantas outras, consideradas por eles tão grandes quanto ou mais, basta ver, para isso, em que os pregadores baseiam suas prédicas.
Oras! As palavras do Cristo são imensurável e incomparavelmente superiores a quaisquer outras palavras proferidas e escritas por quem quer que seja. Atenção: Paulo inclusive.
Nota 3: Com destaque para o sacerdócio evangélico, alimenta-se e promove-se verdadeira guerra intelectualóide em que se defende a ferro e fogo algumas linhas doutrinárias teológicas que, dada a beligerância do confronto entre as partes, não têm nada a ver com o evangelho.      
Nota 4: Desde tempos antigos, quando as pessoas disseram para Moisés que elas não queriam ouvir Dxus, que era para ele ouvir Dxus e dizer para elas o que ele havia dito, criou-se uma distorção aí. No mesmo sentido, as pessoas envolvidas com a revelação, olharam para os povos vizinhos e viram que eles tinham reis dominando sobre o povo, então disseram para Samuel que eles também queriam ter um rei, renegando o reinado de Dxus. Desde então instalou-se no meio a figura do mediador, cuja mediação só pode/poderia ser exercida pelo Cristo, o sumo sacerdote. Fato é que os que são colocados nessa posição de mediação “adoram” essa condição e agarram-se a ela qual âncora de navio em mar bravio.  

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